O nosso estimado Elias (Arquivo JRS) |
Dias
atrás fui visitar o primo Elias. Sempre é bom sentar um pouco com pessoas
queridas para recordar de tantas coisas que vivemos juntos, no mesmo lugar, na
mesma cultura.
Depois
da acolhida e das novidades iniciais, ele fez elogio a um texto que eu até já
tinha esquecido. Trata-se de umas descrição feita por mim, de quando éramos vizinhos no morro da Fortaleza. Faz
tempo isso!
A
cachoeira perto da casa dele era farta em camarões. “O meu pai afundava um
balaio com uma cabeça de peixe num lugar
fundo, na cachoeira. No dia seguinte, logo cedo ele trazia aquilo cheio
de camarões e de lagosta do rio”. Por todo lugar se avistava bananais,
mandiocais e outras tantas cultivares. Todos eram pobres, mas havia muita solidariedade.
Não havia luxo para nada. Os pitirões (mutirões) estavam sempre acontecendo. Uns
acudiam aos outros. Os moradores, mesmo das praias distantes, se conheciam e se
divertiam juntos. “Você lembra, Zezinho, que a rapaziada da Fortaleza sempre ia
jogar bola na Praia Grande [do Bonete]? O campo deles era pra lá da capela,
perto do lugar onde era a roça do Virgílio. Na intermediária do campo, no meio
da grama tinha uma pedra grande. Eu nunca joguei bola, mas certa vez, o João de
Grilo me escalou porque faltava alguém. Eu, coitado, só fiquei tonteando, mas
não ajudei em nada o nosso time. Não demorou muito e o João chamou outro para o
meu lugar. Depois disso eu nunca mais joguei”.
Lógico
que eu me lembro de todos esses bons momentos! E das coisas engraçadas, você se
lembra bem?
“Ah!
Um tempo desse, depois de ter lido aquelas coisas que você escreveu, eu me
recordei de quando, num dia santo, assim que o sino badalou na capela, eu desci
com os meus pais lá do morro, onde foi a nossa primeira casinha. No meio do
caminho encontramos com o tio Zé Armiro e a tia Eugênia. Aí, né, o meu pai que
sempre foi cheio de lorotas, fez uma graça que causou muitas risadas. O tio Zé Armiro, que também não ficava pra trás, disse que eles estavam atrasados porque
a tio Eugênia tinha se engasgado com caroços de jaca, quase morreu. ‘Ainda bem
que os caroços saíram pelo nariz!’. Ao escutar isso, a tia Eugênia deu um tapa
nele e pediu para que ninguém acreditasse porque era mentira. O jeito era rir e
continuar andando para o lugar da capela, onde o padre já esperava o povo todo
paramentado. Mas eu imaginei a imagem dos caroços saindo pelo nariz da titia,
do possível desespero se isso acontecesse e sempre me recordo disso. Que lorota boba,
né?!?””
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