Pobre rio Acaraú! (Arquivo JRS) |
Esta terra (Ubatuba) que possibilitou a cultura caiçara parece que está fadada a ser destroçada, juntamente com sua diversidade de ambientes e de seres. Neste rio (Acaraú), quantas vezes participei das pescarias com o João de Souza! Traíras, bagres, acarás e outros peixes serviram à nossa sobrevivência. Hoje é um canal de esgoto oficial a feder desde a alvorada radiante no Canto do Baguari.Eis a Minha Senhora e senhora de todos os caiçaras! Os caiçaras -e todos! -, são convocados a zelar pelo nosso ambiente natural, pela nossa "galinha de ovos de ouro"! Não nos deixemos cair no engodo do lucro fácil às custas da destruição daquilo que nos deu a vida!
Ela
vivia assim, pisada mais intensamente apenas em época de coleta, de caça e de
pesca, quando as tainhas apareciam vindas do sul frio. Mas não se importava com
isso.
A
Minha Senhora, pouco tempo depois do “achamento” por aquele que descendia de
criadores de cabras, foi descoberta e disputada e até serviu de base aos
antigos habitantes confederados. E ficou triste pela Traição de Iperoig.
Nas
terras da Minha Senhora, as matas caíram para ceder espaços aos canaviais, aos
cafezais e outras culturas. Vieram as fazendas e os sobrados dos mais ricos. As
moradias dos pobres de outros tempos deixaram marcas apenas pelas frutíferas
plantadas pelos terreiros.
Mais
recentemente, novos colonizadores chegaram cobiçosos pelas paisagens da Minha
Senhora. Os pobres que migraram atraídos pelas construções também são novos colonizadores. Desses colonizadores, uma
mínima parcela não são depredadores. Prova disso é a sujeira que arruína as
vestes e os enfeites da Minha Senhora. “Até no rio do Félix está acontecendo
descargas”. Os outros seres agregados também estão se esvaindo, morrendo
indefesos.
Hoje,
na ânsia de levar vantagem em tudo, o descaso e a corrupção grassam em todos os
níveis. “É a grande miséria cultural!”. E o pior: cada aproveitador – pequeno ou
grande! - se apresenta com falsa
humildade, tal como no romance quixotesco, dizendo: “Eu, Senhora, sou o gigante
Caraculambro, senhor da ilha Malindrânia”.
Ah!
Ia me esquecendo: eles são muitos, Minha Senhora!
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