sábado, 16 de março de 2013

O ARMAZÉM DO MACIEL



O armazém do Maciel - (Arquivo JRS)


Hoje, ao fazer a trilha para alcançar as praias da Pixirica e do Tapiá, fiz questão de descer pela Rua do Maciel, a antiga estrada que ligava as praias da Enseada e Toninhas, onde o teimoso Argemiro me garantiu: “É certo, por essa luz que ilumina, eu vi, não sei quantas vezes, o lobisomem”. Continua lá o prédio onde funcionou o mais importante armazém de meados de 1900. A inscrição ainda indica Armazém Ilha da Vitória. Infelizmente, aquela figura conversadeira de uns tempos atrás, a Ivete Maciel, faleceu. Mais tempo faz que o seu irmão, o Altino, também se foi. Na última vez que estive por ali, ela estava arrancando uns matinhos do quintal, “se distraindo porque não posso fazer muita coisa que gostaria”. Foi quando me mostrou algumas lindas canoas que o espaço abrigava. O seu filho era quem estava colecionando algumas das nossas maravilhosas embarcações.

Muitos dos velhos caiçaras, dentre eles o meu avô José Armiro, vendiam farinha de mandioca para o “velho Macié” que não era de Ubatuba, mas sim, caraguatatubense. Era ele que também mediava os produtos destinados ao Presídio [da Ilha Anchieta]. Assim me disse um dia o Silvério Sabá: “Trabalhei muito descarregando produtos dos barcos de cabotagem. Eram sacas e sacas, de tudo um pouco. Até peças de fazenda era negociado pelo Macié. Eu ia  morro acima arfando a cada carga”.
Mais uma vez insisto que estamos perdendo muito em não resgatar esses pontos que resistiram ao tempo. Eles fazem parte da nossa história. Podem ser atrativos de um turismo cultural. Se eu fosse um mecenas, desde o jundu até o alto do morro, faria um calçamento especial, de pedras, como seria viável naqueles idos. Após restauração, daria um destaque ao prédio. Nas cercanias instalaria simpáticas pousadas e outros pontos comerciais no mesmo estilo arquitetônico. Proporia ao Newton Cirillo, de onde se avista toda a beleza do mar, a reformulação do espaço dançante: renasceria A Caverna. Um destaque poderia ser o museu com canoas e outras peças de outros tempos caiçaras. A culinária também se adequaria aos pratos e produtos da terra, à sustentabilidade que valoriza a aptidão dos moradores tradicionais. Do mar viriam os mexilhões e peixes, da mata os palmitos e cocos, da costeira todos os seus frutos. A cachaça seria especial, do engenho recuperado da Prainha do canto do Góis. Algumas trariam o sabor complementar de cambucás, bacuparis, araticuns e grumixamas. A melhor de todas contagiaria os “amantes da branquinha" com o cheiro milagroso do guaco. Passeios de canoas e trilhas monitoradas seriam as atrações principais. O pessoal do Paru forneceria as frutas, inclusive as compotas de jaca. Garanto que, ao agir assim, conseguiríamos recuperar um turismo de qualidade, de pessoas capazes de amar e preservar a nossa maravilhosa natureza, de respeitar a cultura que se fez entre a serra e o mar.

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