sábado, 9 de março de 2013

AH, A MINHA ILHA!

Você já  brincou de "virar gato podre"?



Assim que iniciei os estudos, na escola da praia do Perequê-mirim, o meu colega de tarefas e brincadeiras era o Vitinho, que morava na margem da estrada, próximo do “Depósito do Xarazinho” [Itajá]. Nossos pais eram muito amigos. De vez em quando lá vinha ele com um lagarto morto nas mãos: “O meu pai esteve caçando e mandou este para vocês”. 
         Também não eram poucas as vezes que o papai, craque na arte da carpintaria, oferecia seus préstimos para ajudar o amigo Vitor Mendes, um funcionário do D.E.R (Departamento de Estrada de Rodagem). 
Na beira do mato que rodeava a minha casa, sentados sobre tocos, fazíamos rapidamente os deveres da escola. As nossas mestras preferidas eram a dona Olga Gil e a professora Valda Virgílio. De repente, fazíamos um intervalo rápido para “virar gato podre” num galho de goiabeira. Que delícia!
Foi do pai do Vitinho que eu escutei muitas histórias a respeito da construção da estrada de rodagem que liga Ubatuba a Caraguatatuba. Também dei sorte porque, quase ao lado da nossa casa, morava a dona Belinha, cujo esposo, já falecido, fora engenheiro na mesma empreitada. Depois de tantas décadas, continua bem vivo em minha memória o quanto a chácara da bondosa mulher era agradável, com suas muitas árvores frutíferas. Foi lá que, pela primeira vez, soube o que era o kiwi. Nunca mais soube de alguém que tivesse essa fruta tão diferente. A mãe do Guto, um lojista da nossa cidade, era funcionária da dona Belinha. Dela, ao rondarmos por ali, sempre ganhávamos umas guloseimas deliciosas.
Voltando ao amigo Vitinho, um companheiro de tantas andanças e artes, ele adorava visitar o tio Dito Coimbra, morador do “Sertãozinho”, cujo acesso está defronte ao caminho das Três Praias, na divisa entre o Perequê e a Enseada. Desse homem solitário, que vivia da venda de seus produtos (banana, agrião, mandioca...), “retirado pelo governo da Ilha dos Porcos, por ocasião da construção do presídio”, eu aprendi muito. Por exemplo:

1- Mais de 3.000 pés de laranjeiras foram plantados pelos presos “nos morros daquele lugar que os meus antigos tinham de tudo para a sobrevivência e sobrando para negociar com os barcos que aportavam sempre”.
2-  Os presidiários, por volta de 1933, trabalharam na conclusão e manutenção da “estrada da serra”, que liga Ubatuba a Taubaté.
3- Na ilha, depois que passou a funcionar o presídio, tinha padaria, olaria, sapataria e escola.
4- “O Macié, dono do armazém na subida do morro da Enseada, era o atravessador da carne e outras mercadorias enviadas pelo governo”.

Muitas outras coisas eu escutei do tio Dito Coimbra que, de espaço em espaço nesse assunto, repetia: “Ah, a minha ilha! Que saudade do tempo de criança naquele lugar!”

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