Contam na família de meu pai sobre meu tetravô, de sobrenome Lopes, que era homem de muita coragem.
Estava ele na praia grande do Bonete e resolveu passar a noite por lá mesmo. Entrou num rancho de canoas na beira da praia e se deitou dentro de uma canoa de voga, grande e pesada, dessas para oito remadores. Quando fora da água uma canoa de voga só é movimentada sobre rolos na areia, por meia dúzia de homens fortes. Pois o Lopes se acomodou e pegou no sono, tranquilo.
Quando chegou a madrugada, o Lopes foi acordado de forma brusca e se deu conta de que a canoa estava sendo sacudida. Olhou em torno e não viu ninguém, aquilo não podia mesmo ser gente. Uma força misteriosa levantava a canoa pela proa e largava violentamente sobre os rolos de madeira.
Ainda assim o Lopes não se deixou abater: se não tinha medo de gente ou de bicho, pra que ter medo de assombração? Se segurando como podia, começou a desdenhar: “Ê ê ê, bobagem! Quer quebrar, quebra. Ela não é minha mesmo.” Ainda foi chacoalhado algumas vezes junto com a canoa, depois tudo se aquietou e o velho Lopes voltou a dormiu sossegado ali mesmo. Naquela noite a assombração desperdiçou seu tempo.
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