Nesta terra, neste chão de Ubatuba, até 1980, eu pensava que já tinha visto quase tudo, mas nunca um nativo homossexual. O primeiro, naquele tempo, avistei no terreiro do Luiz Januário.
Cosme era um rapaz, mas não tão rapaz: tinha a voz fina e os trejeitos de uma dama, embora as mãos calosas provassem ser um roceiro muito esforçado.
Depois de uma boa acolhida por parte do Cosme e de seus familiares, das informações que precisávamos, eu e Cícero deixamos o lugar e o pessoal. Pelo caminho fomos conversando. Afinal, tínhamos um tema novíssimo para debater. Ele também estava admirado de, num lugar tão isolado e num viver tão duro, termos encontrado o afeminado. O rapaz era algo muito diferente do padrão caiçara. Daí veio a falácia:
Se Cosme é diferente de Cícero, e Cícero é homem, então Cosme é diferente de homem. Ou melhor: Cosme não é homem assim como Cícero é homem. Ficou a pergunta: Cosme é o que então? Disso rimos bastante, quase alcançando a casa do finado Aristeu. Depois disso nunca mais tocamos no assunto com ninguém. Creio que o Cosme, o caiçara homossexual, viveu e morreu feliz naquelas paragens.
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