quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Depois de Luiz Januário

                Nesta terra, neste chão de Ubatuba, até 1980, eu pensava que já  tinha visto quase tudo, mas nunca um nativo homossexual. O primeiro, naquele tempo, avistei no terreiro do Luiz Januário.
                Cosme era um rapaz, mas não tão rapaz: tinha a voz fina e os trejeitos de uma dama, embora as mãos calosas provassem ser um roceiro muito esforçado.
                Depois de uma boa acolhida por parte do Cosme e de seus familiares, das informações que precisávamos, eu e Cícero deixamos o lugar e o pessoal. Pelo caminho fomos conversando. Afinal, tínhamos um tema novíssimo para debater. Ele também estava admirado de,  num lugar tão isolado e num viver tão duro, termos encontrado o afeminado. O  rapaz era algo muito diferente do padrão caiçara. Daí  veio a falácia:
                Se Cosme é diferente de Cícero, e Cícero é homem, então Cosme é diferente de homem. Ou melhor: Cosme não é homem assim como Cícero é homem. Ficou a pergunta: Cosme é o que então? Disso rimos bastante, quase alcançando a casa do finado Aristeu. Depois disso nunca mais tocamos no assunto com ninguém. Creio que o Cosme, o caiçara homossexual, viveu e morreu feliz naquelas paragens.


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