Lenhadoras - Arquivo JRS |
Meu amigo Francisco é dono de gado pobre. Irene também. Umas poucas vacas de gente assim garantem o leite de cada dia em muitos rincões da Pátria. Gado rico não avistei por aqui, mas sei que dominam vastas áreas por este Brasil afora. O que resta aos pequenos, têm para garantir parcos rendimentos, é gado pobre. Assim é a vida: tem gado pobre e tem gado rico.
O gado rico é gordo, tem pelagem bonita, sem nenhuma praga encrustada etc. O gado pobre é feio, carregado de carrapatos e bernes, esquálido, enche o estômago com qualquer coisa. Ração especial nem pensar! Numa analogia ideológica, dizem por aí que esse gado pobre é da “prateleira de baixo, só serve para votar”. Eu também me valho dessa alusão para dizer o que é notório: as religiões, quase todas, também exploram o gado pobre.
Continuando na analogia: pastores e padres, sobretudo essas lideranças, têm suas preferências, suas ambições: uns se voltam para o gado rico, outros não se descuidam do gado pobre, reconhecem que carece da religião, confirmam a frase de que “religião é um bom refúgio para os marginalizados”, conforme escreveu Rubem Alves. Padre Júlio, de São Paulo, é um bom exemplo.
Não é de hoje que esse gado pobre “está entre a cruz e a espada”, de acordo com o ditado popular. Faz tempo que é essa a situação, mas agora fiquei sabendo de um absurdo: a Câmara Municipal da cidade de São Paulo aprovou uma lei que multa em numa soma alta quem doar alimentos aos pobres, aos empobrecidos que moram pelas ruas. Nós estamos, para usar um termo cristão, destinados a tomar partido nesta “eterna batalha entre Deus e o Diabo”. Assim os rumos do mundo seguem sendo definidos. Depende de cada um de nós a realização de bons sonhos ou de terríveis projetos para a humanidade. Ainda conforme o pensador natural de Boa Esperança (MG), “peca-se por fazer e peca-se também por não fazer”. Ah! Neste Brasil gado vota! Há vida de gado em cima de tantos gados!
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