Nossa cachorra descansando - Arquivo JRS |
Era quase noite quando o casal vizinho veio me contar uma história trágica de pais que se separaram há anos, mas no final, para se vingar da ex-companheira, o homem deu veneno ao filho. “Foi assim: a criança foi levada à escola pelo próprio pai. Na mamadeira estava diluído o veneno conhecido como chumbinho. Tendo planejado culpar a escola, o terrível homem jogou a embalagem do produto letal no cesto de lixo dali, onde a criança passaria o dia. Foi pego porque ele não sabia que no pátio do estabelecimento havia uma câmera. Resultado final: a investigação levou à verdade. O criminoso foi preso”.
Depois que ouvi essa macabra história (que eles souberam pela televisão), voltei a refletir sobre o mal que pode causar esse tipo de reportagem. Narrativas dessa espécie pode contribuir com algo de bom? Eu desconfio que essas histórias reforçam os discursos moralistas tão explorados pelos políticos reacionários. Estes sabem que esse tipo de isca é perfeito para desviar o foco de temas fundamentais, capazes de revolucionar o pensamento político brasileiro. É recorrendo a apelos emocionais que uma escória política encoberta a verdade, engana o povo; vive às custas deste que acaba abraçando a mentira como verdade. O velho Nietzsche previu o seguinte quando a verdade for revelada: “Teremos um espasmo de terremotos, um deslocamento de montes e vales como jamais foi sonhado”. Na sequência, revela o estado da política no século XIX: “A noção de política está completamente dissolvida em uma guerra dos espíritos, todas as formações de poder da velha sociedade [...] se baseiam na mentira". O que ele espera desse quadro pavoroso? "Haverá guerra como ainda não houve sobre a Terra”. O filósofo ousa um pouco mais, atribui a professores e teólogos decadentes uma parcela de culpa a essa elevação da mentira como verdade como “oculto desígnio de vingar-se da vida - e com êxito!”. Ah! Como esse triste cenário está evidente, sobretudo agora com a notícia de que os extremistas fascistas ganharam mais espaço na realidade política europeia!
Enfim, notamos uma absoluta desvalorização da vida sem precisar assistir desses programas televisivos. Trata-se de uma evidente crise da razão, da negação da vida, de um retorno da humanidade à barbárie. Determinados grupos, detendo modernas tecnologias e as rédeas do poder, não parecem dispostos a promover a autonomia do ser humano, nem de libertá-lo. Neste momento digo o que muitos já disseram: estar repleto de informações não significa ter o conhecimento e, muito menos, alcançar a sabedoria. Essas informações horrorosas, que contagiam o senso comum pelo arcabouço moral, se tornam o melhor instrumento de dominação.
Depois de se despedirem de mim, após contarem a horrível história, o marido e a esposa, devidamente trajados, portando uma Bíblia, se dirigiram à igreja. "Estamos indo ao culto. Tenha uma boa noite, Zé". É, pois é. Dizem por aí que estamos na era da pós-verdade. Me digam vocês, professores e teólogos decadentes, acerca desse levante obscurantista fascista: aonde vamos?
Nietzsche profetizava usando a razão. Algo que poucos usam atualmente.
ResponderExcluirAonde vamos, amigo? É medonho o quadro atual.
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