domingo, 20 de agosto de 2023

DEPOIS DE MAIS UMA NOITE NO HOSPITAL

 


 

Desenho e orquídea - presente da Maria Eugênia

     Desde o Dia dos Pais que o meu sogro está hospitalizado por um problema abdominal. Agora está melhor, sem as dores. Foi transferido de Ubatuba para Caraguatatuba devido a um exame muito específico. Assim pude conhecer o Hospital Regional, constatar que está bem aparelhado e tem um corpo de funcionários admirável. Familiares têm se revezado em ficar como acompanhantes nestes dias. Hoje, por volta das 8:40 cedi o espaço à minha esposa; de ônibus em ônibus cheguei em minha casa 12:40. Isso mesmo! Quatro horas devido as esperas e as demoras. Tendo que ficar uma hora e vinte minutos no terminal rodoviário de Caraguatatuba, aproveitei para olhar as pessoas e conversar com algumas. Adoro esses momentos!

     Três moradores de rua estão conversando alto. De repente um deles chama outro mais distante: “Ó, Portuga, vem cá”. Noto que o tal Portuga está vestido diferente, não dá para dizer que vive pelas ruas e beiradas de telhados. Assim que ouço a sua voz, me admiro: “É português mesmo!”. Quem o chamou começa a contar um acontecido: “Sabe que a minha mãe acabou de me telefonar, me deu uma bronca? Ela mora em São Carlos, é uma alagoana baixinha, mas muito brava. Ele me falou gritando assim: ‘O seu filho da puta, trate de voltar logo para casa. Não vê que a polícia tá matando a torto e direito essa gente que vive como você? Volta agora, filho da puta!’. Você acha que ela tá certa ou errada, Portuga?”. Nesse momento, um outro parceiro entra na prosa: “Ela tá certa sim. A polícia está até infiltrando homens entre moradores de rua. O agente se veste como nós, passa a viver no nosso meio só para passar informações e castigar, matar a gente”. E por aí foi o assunto deles. Dei mais uma volta por ali. Não demorou nada para eu me deparar com o citado Portuga já puxando conversa comigo. Prestei muita atenção nas palavras para não perder nada. Soube que ele está há quatro anos no Brasil e que procura uma amada: “Dizem que está morta, mas já me disseram também que está a viver no Morro do Algodão. Eu quero ir lá, mas desconfio que pode ser uma armadilha para me matarem. Eu a procuro porque ela é a minha amada”. Me emocionei. Então ele puxa um aparelho celular e põe para tocar uma música, bonita por sinal. Parece que a canção diz aquilo que completa a angústia dele. Leio o título: Portas do Sol. Quem canta é um grupo (Nena). Sigo a viagem pensando nessa gente, nessas histórias que se tecem pelo nosso espaço caiçara. Pais e mães dessas pessoas podem estar distantes, mas mais próximos do que a gente possa imaginar.

2 comentários:

  1. Ei, Zé! Sempre sensível e com ouvidos atentos. Como não gostar de você e de seus textos?

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    1. Gratidão por você e sua família. Não consigo deixar de ser assim.

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