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Desenho e orquídea - presente da Maria Eugênia |
Desde
o Dia dos Pais que o meu sogro está hospitalizado por um problema abdominal.
Agora está melhor, sem as dores. Foi transferido de Ubatuba para Caraguatatuba
devido a um exame muito específico. Assim pude conhecer o Hospital Regional,
constatar que está bem aparelhado e tem um corpo de funcionários admirável.
Familiares têm se revezado em ficar como acompanhantes nestes dias. Hoje, por
volta das 8:40 cedi o espaço à minha esposa; de ônibus em ônibus cheguei em
minha casa 12:40. Isso mesmo! Quatro horas devido as esperas e as demoras.
Tendo que ficar uma hora e vinte minutos no terminal rodoviário de
Caraguatatuba, aproveitei para olhar as pessoas e conversar com algumas. Adoro
esses momentos!
Três
moradores de rua estão conversando alto. De repente um deles chama outro mais
distante: “Ó, Portuga, vem cá”. Noto
que o tal Portuga está vestido diferente, não dá para dizer que vive pelas ruas
e beiradas de telhados. Assim que ouço a sua voz, me admiro: “É português mesmo!”. Quem o chamou
começa a contar um acontecido: “Sabe que
a minha mãe acabou de me telefonar, me deu uma bronca? Ela mora em São Carlos,
é uma alagoana baixinha, mas muito brava. Ele me falou gritando assim: ‘O seu
filho da puta, trate de voltar logo para casa. Não vê que a polícia tá matando
a torto e direito essa gente que vive como você? Volta agora, filho da puta!’.
Você acha que ela tá certa ou errada, Portuga?”. Nesse momento, um outro
parceiro entra na prosa: “Ela tá certa
sim. A polícia está até infiltrando homens entre moradores de rua. O agente se
veste como nós, passa a viver no nosso meio só para passar informações e
castigar, matar a gente”. E por aí foi o assunto deles. Dei mais uma volta por
ali. Não demorou nada para eu me deparar com o citado Portuga já puxando
conversa comigo. Prestei muita atenção nas palavras para não perder nada. Soube
que ele está há quatro anos no Brasil e que procura uma amada: “Dizem que está morta, mas já me disseram também
que está a viver no Morro do Algodão. Eu quero ir lá, mas desconfio que pode
ser uma armadilha para me matarem. Eu a procuro porque ela é a minha amada”.
Me emocionei. Então ele puxa um aparelho celular e põe para tocar uma música,
bonita por sinal. Parece que a canção diz aquilo que completa a angústia dele.
Leio o título: Portas do Sol. Quem canta é um grupo (Nena). Sigo a viagem pensando
nessa gente, nessas histórias que se tecem pelo nosso espaço caiçara. Pais e
mães dessas pessoas podem estar distantes, mas mais próximos do que a gente
possa imaginar.
Ei, Zé! Sempre sensível e com ouvidos atentos. Como não gostar de você e de seus textos?
ResponderExcluirGratidão por você e sua família. Não consigo deixar de ser assim.
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