Está florindo "Doce casal"- Arquivo JRS |
Está florindo "Leninha"- Arquivo JRS |
Dito do coqueiro - Arquivo JRS |
Provérbio africano: “Se quiser ir longe, vá acompanhado”.
Pontal da Cruz é um bairro, uma praia no município de São Sebastião. De acordo com Dito (do coqueiro), é o “bairro das frutas”. Há muitos tempo eu não pensava nesse lugar localizado na beira da rodovia – e do mar! -, onde morava uma das irmãs da estimada Vanda. Apenas uma vez eu estive lá na década de 1980. É um lugar bonito, emoldurado pelo azul do mar e pelo verde da mata. Mas quem é esse Dito do coqueiro?
Conheci o Dito no
hospital regional, em Caraguatatuba, enquanto continuamos acompanhando o meu sogro em
internação. Falador como tantos outros caiçaras, logo soube que estava ali
devido uma queda de um coqueiro: “Eu sou
caiçara do Pontal da Cruz. Você conhece? O meu trabalho é de limpar coqueiros. Já
tem bastante tempo que faço isso. Quer me encontrar por lá é só perguntar pelo
Dito do coqueiro. De vez em quando acontece acidente, faz parte da vida, né?
Dessa vez eu estava cortando uma folhas, tirando umas palhas velhas. De repente
uma folha caiu, mas parou no meio do caminho, na rede elétrica, passou choque
em mim. Eu caí de seis metros, quebrei um braço, a clavícula e uma costela que
furou o pulmão. Fiquei mais de dez dias no hospital de São Sebastião antes de
ser trazido para cá. Agora não sei por quanto tempo devo permanecer aqui. Ah!
Não é a primeira vez que eu me acidentei nesse trabalho”.
Nunca eu
tinha imaginado alguém especializado em trepar e limpar coqueiros. Então... “O seu nome está justificado, Dito!”.
Mas eu vou deixar que o protagonista fale mais, tá bom?
“Sabe, Zé, eu sou caiçara mesmo. Estou com
cinquenta e dois anos. A minha mãe era da praia do Bonete, da Ilhabela. O meu
pai era caminhoneiro, natural da cidade de Roseira. Ele morreu muito cedo. Eu
nasci em São Sebastião e nunca saí da beira do mar. A minha vida é no Pontal da
Cruz, por ali trabalho e convivo. Vocês (eu e o
meu sogro) precisam passar por lá, fazer
uma visitinha. Vão conhecer o Bar do Badeco, tomar uma pinga com cambuci, experimentar
uns salgadinhos, comer uma sirizada e outras gostosuras”.
Ao saber que eu adoro plantas, sobretudo as
frutíferas, o Dito desfilou uma sequência delas bem típicas do nosso mundo
caiçara. Foi quando reafirmou que o lugar onde ele mora é o “bairro das frutas”.
Dentre cambucás, bacuparis, cambucis, mangas etc., ele me perguntou se eu conhecia
fruta-pão. “É lógico que eu conheço!”.
Então ele me apresenta uma novidade que movimentou o diálogo: “Da branca e da amarela?”. “Da amarela? Eu
nunca imaginava que existia mais de uma espécie de fruta-pão!”. “A fruta-pão
amarela é melhor que a branca, é mais doce. Se quiser mudas é só passar lá em
casa que eu lhe dou”. Quer estímulo maior que uma quem gosta de plantas?
Certamente que irei atrás dessa variedade, que plantarei e terei o prazer em
desfrutar dessa iguaria formidável. Pode ter certeza que eu farei e repassarei
mudas dessa fruta para outras pessoas!
Não é maravilhoso descobrir novidades a cada dia, crescer em conhecimento convivendo com os caiçaras, com a diversidade cultural e étnica tão peculiar no nosso espaço?
É isto: “Se quiser ir longe, vá acompanhado”.
Em tempo: Maria Eugênia, a minha filha, acabou de me informar
que a estimada Jandira, uma mestra indígena da Boa Vista (Prumirim –
Ubatuba), é quem cuida das orquídeas da aldeia.