Pinos diversos - Arquivo JRS |
Anteontem, no mesmo caminho, encontrei o
Filipe. Estava totalmente desnorteado, contando uma história triste, mostrando
uns machucados, querendo desabafar. Eu escutei por um bom tempo. Na despedida
ele me perguntou se eu não tinha isqueiro. Era para acender um cigarro de
maconha: "Isto o meu calmante. Serve
para esquecer um pouco das coisas ruins”.
Na limpeza da minha calçada, o “Bosque da
Rua”, encontrei, dentre outros corpos estranhos, pinos de cocaína. Parece ser
um lugar apropriado à noite para alguém que precisa usar tal produto. Os usuários
provavelmente se detêm na madrugada, quando não está chovendo. Não me importo,
mas deveriam levar os frascos desocupados, não jogar entre as plantas.
Geralmente a
maioria dos usuários de drogas ilícitas são jovens. Inúmeras situações de vida
os conduzem às saídas que aparecem. Uns bebem, outros fumam, alguns cheiram... Mas
todos mostram uma realidade: as alternativas de trabalho, de lazer e de
realização são restritas, planejadas para manter as injustiças, as
desigualdades sociais que garantem os privilégios de uma minoria. Quanto mais
desnorteados estiverem os jovens e a classe trabalhadora, mais fácil se
perpetua a dominação dos pobres. Assim, qualquer iniciativa cultural que seja
uma alternativa ao uso de qualquer tipo de droga é bem-vinda.
Enfim, encerrando
este texto, relato um fato ocorrido ontem: Gilberto agora está no turno da
noite, volta do trabalho ao amanhecer. Eu o encontrei voltando com um parceiro.
Na bicicleta chamava a atenção uma carga enorme de latinhas de alumínio. Eles
pararam para arrumar alguma coisa. Giba me explicou: “Bom dia, Zé. Estamos chegando agora depois de uma noite de correria.
Depois a gente vende as latinhas e divide o dinheiro”. Só restou me despedir deles desejando um bom descanso: “É isso aí,
moçada!”.
A escola pública era apresentada como um meio de os jovens da classe trabalhadora ascenderem socialmente. Poucos conseguiam isso, mas havia essa possibilidade, havia um discurso que o estimulava, agora os currículos oficiais nem disfarçam mais o objetivo de manter as injustiças sociais. Para isso, com o pretexto de que os jovens pobres precisam se empregar mais cedo, a escola alija os alunos dos conhecimentos básicos e empurra-os para o mercado de trabalho, no qual, por falta de formação, terão de se conformar em exercer funções desprestigiadas e, portanto, mal-remuneradas. O resultado é que a desigualdade social só aumenta. Outra consequência dessa educação é o indivíduo que a recebeu não ter a mínima noção de que é vítima de um sistema que o faz acreditar que vive em situação precária porque não tem mérito ou não é tão inteligente quanto aqueles da classe dominante.
ResponderExcluirInfelizmente é isso mesmo! Esses jovens foram meus alunos anos atrás.
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