quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

FRUTAS DA ESTAÇÃO

 

Fim da jaca, vez das sementes - Arquivo JRS

Jabuticabas maduras - Arquivo JRS


   Bem cedo eu estava com o Valtinho na Fonte da Amizade, no Horto Florestal. Ele, caiçara do mato desde sempre, logo foi perguntando se eu já tinha comido jaca nesta temporada. “Lógico, Valtinho! Parece que não me conhece!”. E ele emendou: “Ontem eu comi uma jaca dura, trouxe da casa da minha mãe, do Taquaral”.

   Jaca dura é jaca de favos consistentes, pouco comum entre esse mundo de jaqueiras do nosso pedaço de litoral. Recomendei ao amigo que separasse os caroços para semear pelos caminhos, pelas matas. Digo isso porque me arrependo de não ter essa mentalidade desde criança, pois no terreiro do meu bisavô, o Nhonhô Armiro, na praia da Fortaleza, havia uma variedade de jaca saborosíssima, do tamanho máximo de uma bola de futebol, nunca maior. Depois dali, anos depois, somente na prainha do Sul, na Ilha Anchieta, eu reencontrei espécie semelhante, mas não pude colher uma fruta para levar e aproveitar as sementes. Ou seja...estou devendo à minha consciência o dever de procurar a oportunidade para não deixar desaparecer essa espécie singular. Caso alguém tenha, pode me reservar uma sementes? Desde já agradeço.

   Na subida da fonte, eu e Valtinho fomos prestando atenção em duas ou três pés de bacupari-açu. Até a semana passada ainda comemos deles. Restam poucos nos galhos, já no tom de amarelo-ouro. “Vamos pegar?”. “Claro que não! Deixa esses para os passarinhos semearem mato afora”. E o assunto continuou nas frutas que conhecemos desde que nascemos. Concluímos que este ano não foi bom para os cambucazeiros. Nenhum dos pés próximos de nós, onde sempre aproveitamos dessa coisa deliciosa, deram frutos. “O que será que aconteceu? Nem aquele antigo, lá do Mato dentro, vingou alguma coisa”.É mesmo. A natureza tem dessas coisas: um ano a árvore carrega, outro dá quase nada. Só que nada de nada de cambucá eu nunca tinha visto! Já pensou se alguém tiver agora desejo de comer cambucá?”.

    Depois, no retorno para casa, convidei meu velho amigo para comermos a última jaca trazida da casa da Mary. E assim demos o fim naquela doçura, reservando parte das sementes para lançar na mata, pelos caminhos. Outra parte vai para os saquinhos, serão mudas garantidas que, cinco ou seis anos depois estarão ofertando seus favos aos passantes (animais e homens). Ah! Ainda pude repartir com ele uma pequena colheita de jabuticabas do quintal. Coisa boa demais!

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