Fim da jaca, vez das sementes - Arquivo JRS |
Jabuticabas maduras - Arquivo JRS |
Bem cedo eu estava com o Valtinho na Fonte da Amizade, no Horto
Florestal. Ele, caiçara do mato desde sempre, logo foi perguntando se eu já
tinha comido jaca nesta temporada. “Lógico,
Valtinho! Parece que não me conhece!”. E ele emendou: “Ontem eu comi uma jaca dura, trouxe da casa da minha mãe, do Taquaral”.
Jaca dura é jaca de favos consistentes, pouco comum entre esse mundo de
jaqueiras do nosso pedaço de litoral. Recomendei ao amigo que separasse os
caroços para semear pelos caminhos, pelas matas. Digo isso porque me arrependo
de não ter essa mentalidade desde criança, pois no terreiro do meu bisavô, o Nhonhô
Armiro, na praia da Fortaleza, havia uma variedade de jaca saborosíssima, do
tamanho máximo de uma bola de futebol, nunca maior. Depois dali, anos depois, somente
na prainha do Sul, na Ilha Anchieta, eu reencontrei espécie semelhante, mas não
pude colher uma fruta para levar e aproveitar as sementes. Ou seja...estou
devendo à minha consciência o dever de procurar a oportunidade para não deixar
desaparecer essa espécie singular. Caso alguém tenha, pode me reservar uma
sementes? Desde já agradeço.
Na subida da fonte, eu e Valtinho fomos prestando atenção em duas ou
três pés de bacupari-açu. Até a semana passada ainda comemos deles. Restam
poucos nos galhos, já no tom de amarelo-ouro.
“Vamos pegar?”. “Claro que não! Deixa esses para os passarinhos semearem mato
afora”. E o assunto continuou nas frutas que conhecemos desde que nascemos.
Concluímos que este ano não foi bom para os cambucazeiros. Nenhum dos pés próximos
de nós, onde sempre aproveitamos dessa coisa deliciosa, deram frutos. “O que será que aconteceu? Nem aquele
antigo, lá do Mato dentro, vingou alguma coisa”. “É mesmo. A natureza tem dessas coisas: um ano a árvore carrega, outro
dá quase nada. Só que nada de nada de cambucá eu nunca tinha visto! Já pensou
se alguém tiver agora desejo de comer cambucá?”.
Depois, no retorno para casa, convidei meu
velho amigo para comermos a última jaca trazida da casa da Mary. E assim demos
o fim naquela doçura, reservando parte das sementes para lançar na mata, pelos
caminhos. Outra parte vai para os saquinhos, serão mudas garantidas que, cinco
ou seis anos depois estarão ofertando seus favos aos passantes (animais e
homens). Ah! Ainda pude repartir com ele uma pequena colheita de jabuticabas do
quintal. Coisa boa demais!
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