O Bosque da Rua - Arquivo JRS |
Estou podando as plantas da calçada, mas o trabalho não rende porque
sempre tem alguém parando para uma prosa. Minha esposa diz que "desse jeito não acaba nunca". Eu acho é pouco e quero é mais! Tem quem se envereda em
coisas de religião, outros contam da saúde, do trabalho que está fazendo depois
de um tempo sem emprego etc.
Renato é vizinho de duas ruas depois. Ontem ele parou para comentar das
terras que a finada mãe tinha: “Sabe
aquela área ali, antes da cidade? Era dos meus parentes. Tio Zé Raié tinha
bananal ali. Tudo aquilo, onde tá cheio de casas e de comércio agora, era dele.
Depois vendeu para Fulano, que vendeu para Sicrano, que mais tarde vendeu para
Beltrano. Este pagou com drogas que trazia entre as mercadorias, vinha de longe.
Sicrano se acabou no vício. Quem comprou dele agora tá rico, não precisa mais
se preocupar nesta vida com dinheiro. No ano passado vendeu quase toda a área”. Quando ele acabou de explicar tudo, perguntei: “Então quer dizer que o crime compensa?”.
Ele parou, ajeitou os óculos e
respondeu: “É, compensa. Sabendo fazer...
compensa!”. Dei risada.
Notei há muito tempo que a Dona Maria, moradora antiga no bairro, faz
questão de passar bem devagar na nossa calçada, como se estivesse contemplando.
Logo depois da prosa com o Renato, ela estava retornando do mercadinho. Parou
perto de mim e fez este comentário: “Eu
chamo está calçada de Bosque da Rua. Adoro esse frescor, essas plantas. O
senhor está de parabéns”. Tem coisa melhor do que um elogio-agradecimento
pelo espaço que cultivamos? Tem coisa melhor do que aproveitar a folga para
cuidar das nossas plantas e prosear com as pessoas?
Eu acho é pouco e quero é mais!
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