sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

SANTA UTOPIA

Reis Magos - Arquivo JRS


       Entramos num outro mundo, em novo tempo. Quem apresentou isso, segundo a tradição cristã, eram reis magos, os Santos Reis, cujo dia é celebrado a cada 6 de janeiro na liturgia católica. Em muitos países a  presente data é o verdadeiro Natal.

      Os Santos Reis buscavam um rei que nasceu entre os pobres, na periferia da sociedade de então. É um evento, mesmo que não tenha ocorrido conforme a literatura, a oferecer uma visão do paraíso. Disso decorre valores que visam almejar uma outra ordem social construída em torno de valores espirituais, morais e sociais. Diríamos que é uma Santa Utopia.

      Como cultivar a Santa Utopia, no caso do Brasil, com tanta gente adorando o crepúsculo dos escombros de um governo genocida que visava a morte dos mais marginalizados e do meio ambiente? Como reerguer a Santa Utopia com gente que nem consegue analisar a dissolução da sua própria existência? Na verdade, essa utopia se resume na meta dos Santos Reis: buscar no horizonte a vinda de uma cidade santa. Nesta direção, o Menino Jesus (nascido entre os pobres) foi considerado revolucionário, tornou-se perseguido pelo rei Herodes. A mensagem perseguida pela tríade vinda do Oriente é de se alimentar para uma sociedade sem oprimidos e opressores, de liberdade, de solidariedade, de justiça, de amor etc. Então pergunto agora: Por que tantos pobres se posicionam contra a Santa Utopia? E respondo imediatamente: Eles foram encantados pela ética do lucro, pelo entusiasmo do capital e da posse sem perceberem o quanto são usados pela minoria privilegiada. Quem abraça tais princípios não conhece a compaixão, vai se afastar do caminho que busca a Santa Utopia.

      Costumo dizer que, mais intensamente neste tempo, há uma disputa de narrativas. Por isso é triste constatar tantos pobres nesse encantamento capitalista. Constatando tantas manobras de pastores, de padres etc. para reeleger o Inominável, neste dia de celebração (Dia dos Santos Reis)  eu entro com uma contribuição de Rubem Alves, abordando Karl Marx a respeito da religião que não ousa contribuir com uma análise social: “Como poderia a religião ser acusada de responsabilidade se ela não passava de uma sombra, de um eco, de uma imagem invertida, projetada sobre a parede? Ela não era causa de coisa alguma. Um sintoma apenas [...] Marx não desejava gastar energias com dragões de papel. Estava em busca das forças que realmente movem a sociedade”.  A minha insistência é: deixemos a ingenuidade e lancemos luzes sobre as expectativas dos Santos Reis. É urgente análises que se reforce as narrativas de um mundo de mais justiça e de amor que desmontem ideais individualistas, elitistas e criminosos. O desafio passa pelo combate à desinformação. Nós, sobretudo caiçaras, estamos no mesmo rumo dos Santos Reis ou somos aliados do rei Herodes? Que as nossas Cantorias de Reis sejam coerentes com nossas atitudes. Afinal, diz a música: “Bem podia ter nascido em colchão de ouro fino/ Para dar exemplo ao mundo, nasceu pobre o Deus-Menino”. As desigualdades sociais devem ser superadas. É por aí que as batalhas precisam ser travadas!

     Neste momento, desmontando o presépio, finalizo com as palavras de outro tempo, do saudoso Tio Antônio da praia do Puruba:  “E, depois da comidoria, vamos para o tio Durval. Já está tudo pronto para o bate-pé no assoalho dele! É hoje que o Sol desponta na Justa com gente lascando tamanco! Viva os Santos Reis! Viva!!!

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