Nosso espaço de leitura - Arquivo JRS |
No mês passado eu fui conhecer o supermercado novo, recém inaugurado ao lado da rodovia, não muito longe da minha casa. Ficou bonito, amplo, mostrando boa organização dos espaços. Vários rostos daquelas pessoas trabalhadoras devidamente uniformizadas são conhecidos. Divisei jovens se movimentando com caixas, atendendo clientes, fazendo limpeza etc. De repente avistei uma moça. Não direi o nome dela, mas seus pais são conhecidos na cidade, têm vida social interessante. Eu os conheço desde quando éramos adolescentes. Ela se aproximou e foi logo dizendo: “Oi Zé, o que eu faço para mudar a cabeça do meu pai? Você acredita que ele continua apoiando o Demônio que perdeu a eleição? Minha mãe, coitada, sofre com as falas e atitudes dele. Tem vergonha até de conversar com as pessoas. Ele sempre foi reacionário, mas piorou muito nos últimos anos. Até tem tido uns lances de violência lá em casa”. Eu apenas ouvi, sem nem saber como consolá-la. Prometi no meu íntimo que passaria mais vezes por lá, ao menos posso servir para escutar seus desabafos. Afinal, eu conheço aquela moça desde que nasceu. É parte da nossa gente caiçara.
Outro caso aconteceu na semana passada, bem no centro da cidade, quando eu me deslocava com umas compras para acomodar no carro que não estava muito longe dali. Um antigo colega estava devidamente “trajado de patriota” e conversando com alguém. O assunto, notei logo e até dei uma diminuída no meu andar, era os acampamentos absurdos contra a democracia que estão espalhados por diversos pontos pelo Brasil. Eles pedem pela intervenção militar, são bancados pelo agronegócio e outros empresários que se sentem ameaçados pelo novo presidente que se pauta pelas questões sociais favoráveis às categorias mais marginalizadas e perseguidas na nossa sociedade. Pensei: “Não acredito! Ele que tanto estudou e é um bom profissional na sua área está nessa canoa furada?”. Em seguida me lembrei de um provérbio que, segundo o meu saudoso avô Armiro, é árabe: “Quem estuda e não pratica o que aprendeu é como o homem que lavra e não semeia”. É certo mesmo! Como pode alguém tão instruído dizer que “os militares estão preparando alguma coisa, não vão nos desapontar. Em breve a gente vai ser surpreendido você vai ver”. Como pode? Não, ele não é alguém fanatizado por alguma religião. É caiçara que acompanha toda as problemáticas que afligem a nossa cultura e a nossa terra; até critica a prefeita seguidora do mesmo Inominável admirado por ele.
O terceiro caso relacionado à onda reacionária que assola o nosso país se deu de forma virtual. Uma bela manhã eu recebo uma mensagem de uma amiga caiçara, nascida numa simpática praia, onde até hoje são preservados os traços culturais tão importantes a nós. Está, aparentemente, desesperada: “Eu estou depressiva há vários meses, não consigo suportar o (...), as suas posições atrasadas, as suas falas. O seu deslocamento da realidade me angustia demais. As filhas e netos também estão no sufoco. Nesses dias estava pensando em você. Hesitei bastante, mas decidi contar com alguém que eu sempre confiei muito. Quem sabe isso me alivia um pouco. Tá tudo muito tenso aqui em casa”.
Agora, depois dos ataques terroristas em Brasília, resolvi escrever este texto. Reparando nas imagens absurdas vejo mulheres, homens, pessoas idosas. Todos brancos! Não vi negros, nem indígenas, nem sindicalistas, nem agricultores sem-terra, nem movimentos de favelados, de professores etc. Tudo foi destruido, inclusive obras de artes. Será que tinha algum caiçara cabeça-gorda lá? Pode ser que sim! Afinal, no dia 12 de outubro último, festa de Nossa Senhora Aparecida, alguns caiçaras tiveram a atitude covarde de se deslocar até a Basílica Nacional e tomar parte naquela arruaça dos reacionários amplamente divulgada. A que ponto chegamos!? Sem dúvida que há caiçaras terroristas! Como brinca um amigo: "São dependentes de capim e cloroquina".
O ovo da serpente eclodiu!
ResponderExcluirQuanta falta de um estudo levado a sério, né? E quantos professores e gestores não são terroristas, nazifascistas? Conhecemos muito bem alguns, né?
ExcluirA omissão das instituições, a proposital desinformação praticada pela grande mídia e pelos líderes evangélicos e as fake news resultaram nesse horror fascista.
ResponderExcluirE a força dos militares aliada ao agronegócio e outros empresários.
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