terça-feira, 17 de janeiro de 2023

GENTE DO ZÉ CHICO


Clóvis, o filho loiro do Zé Chico - Arquivo Clayton


      O amigo Clayton, filho do finado Clóvis, gente do Zé Chico, me confidenciou a respeito do apoio de tantos pobres aos planos genocidas, ao discurso de ódio que contagiou a nossa sociedade: “Tem até gente próxima da gente. Uma vergonha. Me sinto traído por pessoas que já comeram no mesmo prato”. De fato, eu, parte dessa imensa massa popular, sinto que tomamos uma rasteira. Tendo como ponto de partida o que esse caiçara da Maranduba falou, faço questão de ampliar os horizontes considerando a necessidade de mais justiça social, de partilha e de preservação ambiental. É para isso que temos inteligência.

    A nós, sobretudo seres humanos pensantes, temos uma inteligência (capacidade de pensar, de duvidar, de ansiar por alternativas) que deveria garantir a VIDA PARA TODOS. E agora volto ao tema levantado pelo Clayton: essa gente é desprezível porque se abstiveram de usar a inteligência, abandonaram a ética. Poderíamos afirmar que abraçaram a preguiça.

    Uma inteligência preguiçosa, já escreveu Rubem Alves, “para de pensar e se prende a hábitos passados”. Portanto, é muito triste constatar gente nossa, parentes até, se orgulhando de ter posição reacionária. Mas reacionária mesmo! Daí o apoio à ideologia criminosa, nazifascista, de excluir e exterminar os mais pobres e a minorias sociais. Mas como se faz uma inteligência preguiçosa? Eu diria que a causa principal é o uso inadequado da tecnologia, se tornando escravo da mesma. Vejo, no dia a dia, como um aparelhinho numa mão domina o corpo inteiro. Aqui recordo de mais de um acidente ocorrido graças ao encantamento das pessoas pela tecnologia. Até atropelamento já testemunhei nas minhas andanças. É bobeira, estupidez demais. Se mata ou morre simplesmente porque está encantado pelos conteúdos nas redes sociais. As mentiras (fake news) tornaram as imoralidades orgulhosas (que resultaram em anos de atraso na nossa sociedade, em considerável parcela de fanatizados de nossa população).

   Qual a recompensa para a inteligência preguiçosa? Nenhuma! Ela só vai perdendo! Há até uma pesquisa que concluiu o seguinte: a geração atual, devido a dependência tecnológica, está regredindo na capacidade cognitiva, no desenvolvimento de reflexões que conduzam à autonomia do pensamento. É isto Clayton: falta reflexão para dar rumo ao caráter humano  em boa parte dessa caiçarada, da nossa gente. Resumindo: a inteligência é o nosso tesouro. A questão é: o que se espera receber enterrando tão grande tesouro?

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