Praia da Cocanha - Arquivo JRS |
Trata-se de uma semanário antigo: O Tico-tico (Semanário das creanças). A edição é de 14 de dezembro de 1927. Na página 7 está o artigo do Carlos Manhães.
A voz do mar
A onda, marulhosa e forte, acabava de arrebentar nas pedras limpas do cáes, atirando salpicos de prata na graça de uns cabellos de ouro.
- Não gosto de ver o mar. Elle é máo! Roncando sempre, empurra as ondas, desfazendo-as em espumas, separando-as com impiedade. Eu queria ver o mar como vejo o rio, carinhoso e manso, a deslisar em affagos, em ternura materna, beijando as margens floridas e ensombradas. Não sei porque o mar fala tão alto, porque está sempre zangado. Então, á noite, quando a Lua olha para as ondas, eluminando-as, o mar mais se enfurece. Pensa, talvez, que a Lua vae gastar o espelho das aguas...Imagino, ás vezes, que o mar guarda em seu bojo todos os trovões que fugiram do céo.
- Não pense mal do mar, meu doce amor! O rumor do oceano não é de trovões nem de maldade.. É o hymno de alegria das águas do bailado das ondas espumosas. É o cantico glorioso da lympha que já foi fonte, da fonte que formou o regato, do regato que se tornou rio, do rio que se fez caudal, da caudal que fertilizou campinas, dando humus á terra, dando seiva ás flores, dando viço ás arvores onde a passarada cantou balladas ao nascer de auroras! É o marulho forte da corrente que levou jangadas a portos almejados. É o chiar de imponentes cachoeiras, é a canção das chuvas, a alegria infinita do orvalho que formou gottas d'água, o supremo contentamento das avalanches na dansa maravilhosa do justo que exalta a ventura de ter sido útil! A voz do mar, meu filho, é a rapsodia das águas que beijaram a terra dando-lhe fertilidade e riqueza!
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