Cercando tainha no Itaguá -1960 (Arquivo Igawa) |
March
Bloch e Lucien Febvre, dois importantes estudiosos contemporâneos apelam para
que se estude “o homem e todos os seus
vestígios, e não somente as grandes personalidades, isto é, passaram a
considerar toda a produção material e espiritual humana como
possibilidade de contato com esse homem do passado”. Assim, após vivenciar
mais uma noite em família, dentro de uma tradição, reescrevo a respeito da
cultura do pitirão (multirão), da relação de comunhão, de reciprocidade genuína.
“É um adjutório que vem desde os mais
antigos dessa terra”.
“Cruzei o Cabo da Boa Esperança”. Fiz
favores, recebi favores porque assim aprendi a cultura do pitirão. Neste ideal
marquei presença em construções de casas e em roçados de muita gente. “Lembra-se daquela casa, da Dona Irene, na
estrada do Monte Valério?”. Era favor que a gente esperava ser retribuído: “Pobre tem de se ajudar”, “Uma mão lava a outra
e as duas lavam o rosto”. Agora, pensando em sábias palavras e exemplos de
nossos antigos, sei que ajuda é outra coisa. Os velhos caiçaras ensinam que
ajuda não se diz, só se sente. Porque, “se
uma boa obra (ajuda) se torna pública, ela perde o seu caráter de bondade, de
não ter sida feita por outro motivo além do amor à bondade”. Registro isto
aqui porque desconfio que, dentre os poucos caiçaras que encontro nos diversos ambientes,
quase ninguém recebeu/assimilou tal aspecto. Por quê?
O
advento do turismo e a chegada da televisão coincidem com a vinda dos migrantes
em busca de melhores condições de vida. Estes deixaram suas realidades de
roças, suas culturas (caipira, sertaneja...); alguns vieram até de outros
países. A maioria da população ubatubense se encaixa neste contexto. Quem chega
assim, buscando a sobrevivência, dificilmente respeitará a cultura que já se
encontra no novo lugar, não vai considerar a sacralidade da terra, do mar, dos
rios e dos demais seres. “Farinha pouca
meu pirão primeiro”. Acaba se instalando a sociedade de consumidores
incapazes de cuidar deste entorno, deste mundo caiçara (interdependência
homem-natureza). E o pior: justifica o injustificável (omissão, ganância,
egoísmo, perda de sensibilidade dos favores e da ajuda etc.).
Enfim,
ajuda é o que você não vai dizer para ninguém, pois acredita que só à eternidade diz respeito. Favor é aquilo que
você faz esperando retribuição. A frase preferida da vovó Eugênia encerra a
prosa: “Que a tua mão direita não saiba o que faz a tua mão esquerda”. A tradição da fogueira é parte dessa cultura em pitirão.
Triste !! As vezes me pergunto ! Quando da Perda da inocencia de nossos irmão Caiçaras? ja não se ajundam mais sem que aja um pagamento , ha uma luta desesnfreada pelo poder monetário,nossas festas viraram meros comercios onde nem um doce é dado a uma criança desconfiada. Este mes participei em uma festa dita festa caiçara onde o monetario é o objetivo ,nossa cultura estava longe de la,onde nenhum Caiçara remado apareceu para participar de uma tradição, nossa corrida de canoa caiçara,não fosse alunos de uma escolinha de remo aparecer não haveria corrida ,onde há divisão e até mesmo inveja no que o amigo pescador pescou em sua rede . triste ! Ha saudade dos tempos de primeiro onde o pouco que tinha-mos repartiamos como o proximo ,onde guarida erá dado a todo viajante em nossa casas.
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