Puxada de rede (Arquivo ACO) |
Garça branca, rio... (Arquivo JRS) |
A
partir de 1970, mais ou menos, começamos a escutar sobre ecologia, preservação
ambiental, ecodesenvolvimento etc. Passamos a ver com outros olhos as formas de
ocupação do espaço, de como íamos jogando um monte de coisas (lixo) na natureza
e de que forma usávamos os recursos que nos rodeavam, que faziam parte essencial
do espaço caiçara. Passamos a entender que o progresso também fazia estragos.
Agora, depois de algumas décadas, creio que a causa ecológica não é uma moda
passageira, ela começa nas mínimas atitudes em volta da nossa casa, se alastra
para o nosso município e ganha o mundo. Há uma ordem na casa e no mundo. O
mundo é a nossa casa: ecologia. Somos cidadãos do mundo!
Meus
avós começavam o dia visitando o tresmalho. Seus apetrechos de pesca eram
carregados em balaios que, depois de velhos, iriam servir como lugar para as
galinhas se aninharem. Depois, ao perceberem alguma tábua encalhada, trazida
pela maré, levavam para casa, iria servir para algo. Até mesmo pregos, caso
tivessem, seriam depositados numa cumbuca e aproveitados em alguma ocasião. As
linhadas eram desembaraçadas e duravam muito tempo. Os pescados eram consertados no rio, onde os patos devoravam quase tudo que
a gente não aproveitava, sendo o
restante comido por camarões e peixes de água doce. Urubu e garoçá comiam da
miuçalha que ficava na praia. Não havia detergente, nem desinfetantes, nem
todos esses produtos que usamos em nossos cabelos. O sabão, desde o de cinza feito pela vó
Martinha, era o rei da limpeza. As vasilhas
de barro não exigiam muito, mas as de alumínio eram areadas para brilharem. Hoje sabemos que tudo era dificultoso, mas na
época, conforme as palavras do Seo Zé Pedro, “a vida não tinha dificuldade
porque a gente não conhecia facilidade”.
Um
exemplo de aproveitamento que me marcou muito foi me dado por Seo Dito Coimbra,
morador do sertãozinho do Perequê-mirim. Ele era morador único dali, sozinho
mesmo! Bem mais tarde é que o Miguel da Maria Clarinda foi morar naquele lugar.
A água vinha do morro numa bica de
bambu, formava um pequeno charco onde ele cultivava agrião e escorria sem nenhuma
pressa para o cercado das criações (pato, galinha...). De lá passava pelos
canteiros da horta bem cercada de bambus e escorria para o bananal. A cada dia, exceto nos dias santos e
domingos, o Seo Dito saía com uma cesta para vender ou trocar seus produtos. Ainda
tenho bem na lembrança o seu andar tranquilo, o seu lugar aprazível. Agora,
passando por cada córrego do nosso município, sentindo em muitos deles o cheiro
de esgoto que segue para o mar, sinto o quanto é urgente pesar os prós e os
contras, de avançar com cuidado, mas avançar mesmo em defesa da natureza! Imagine que tem "gente sabida" defendendo a verticalização, mais esgoto ainda para o nosso mar! "Ah! Depois a gente cobra do governo um tratamento adequado do esgoto!".
Naquele
tempo, meados de 1970, quando veio uma ordem para cortar as árvores que
enfeitavam as margens da rodovia, o Seo Dito parou onde eu estava junto ao balaio da rede e disse: “É o progresso, meu filho! Aonde vamos parar?”
Não
chego a ser pessimista, pois, conforme o ditado, “o pessimista é um otimista
bem informado”, mas desconfio que, a a partir dos abusos do sem-noção do meu entorno e dos poderosos devastadores da natureza em nível mundial, a política
dos pequenos passos não salvará o mundo, mas... sigo fazendo a minha parte.
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