Tradição da fogueira (Arquivo JRS) |
Jorge
“Cabeça”, filho do tio Izídio Antunes de Sá e da tia Luzia agora está sepultado no
Morro do Cemitério, acima da costeira da Maranduba. Há pouco mais de dois meses
nos encontramos no ônibus; voltava para a sua casa, no Sertão da Quina.
Estava animado para a prova pedestre, prevista para o dia 13 de junho, da
subida do Morro de Santo Antônio, em Caraguatatuba. “Ainda ontem treinei com o filho do Mário, viemos correndo desde a
Caçandoca até o Sapê. Logo vou completar 71 anos. Acho injusta a minha
categoria (acima dos 60 anos): 10 anos faz diferença. Poderia ter uma categoria
de 70 anos acima. Mesmo assim, no ano
passado eu fiquei com a terceira colocação. Você sabe que eu sempre tentei estar em todas.
Moderei nos meus vícios; já não bebo muito faz tempo. Agora me dedico mais às
minhas corridas”.
Numa ocasião,
quando eu era bem moleque, também escutava uma conversa entre o frei Pio e o comerciante
João Pimenta, o “Incréu”, conforme dizia papai. O armazém dele me encantava. Na
minha lembrança tinha mais de dez pessoas assistindo e participando da prosa. Jorge,
bem jovem ainda, também estava por ali, meio que embalado pela “mardita
branquinha”. Só que prestava bem
atenção, balançando de espaço em espaço o vantajoso beiço ou para o lado do
frei ou concordando com o comerciante. Em frente era o Largo do Sapê, com vista
para o mar e o Porto do Cruzeiro (ao lado da casa da Maria Balio). De repente,
cansado do assunto, o Jorge falou: “Quem
sou eu para julgar quem tá mais certo ou mais errado?! Entendo quase nada de
religião! Mas para mim Deus é um sonho. Um sonho é assim: pode ser interpretado
de todo jeito. O Seo João tá certo e o frei Pio também tá certo. Aquilo que o
mano Tobias disse acho que não tá errado. Não discordo da opinião do Clóvis. O
Calixto deu o seu ponto de vista que é muito interessante. Também tá certo. Um
sonho permite tudo. Agora eu vou indo porque a mamãe, a esta altura, já
cozinhou a garoupa que o Chico Félix levou. A fome é maior que este papo de
religião, entenderam? Sou cabeça, viu? Num assunto desse, assim costuma dizer o papai: ‘A gente
usa muitas mentiras bonitas para encobertar as coisas que podem causar vergonha’
Cabeça, né? Cabeça, filho de Cabeça! Cabeça, bicho!”.
Pelas notícias, A
sua morte foi causada por alguém que dirigia bêbado e nem habilitação tinha.
Jorge Cabeça, meu primo. Pedreiro. No último dia de vida terminou a casinha de
cachorro da dentista. Cabeça, irmão!
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