O amigo Júlio Mendes, no mês de maio, na espera de uma tainha assada, me enviou esta preciosidade de poesia. Publico agora em homenagem ao casal Isaías e Alcina, os responsáveis pela existência do Júlio, grande artista popular caiçara, pai do Ranchinho Caiçara, do Boi de Conchas e de tantas outras iniciativas. Que em 2017 possamos fazer mais pela cultura caiçara. Viva o Grupo Cantamar!
Mês de maio vem
chegando
Vem trazendo ar de
frio
Trás também sabiá uma
E tainha em cardume
Para a vida caiçara
Era o que
interessava
A tainha em cardume
Que do sul aqui
chegava
Athanásio e seu
Alfredo
Já estavam a esperar
Com canoas e suas
redes
Na beira do lagamá
No alto do Curuçá Zé
Vieira a espiar
Quando o mar se
refolhar
O seu búzio vai
tocar
Foi depois de uma
semana
Que o mar se
refolhou
Era um grande
cardume
De tainha que boiou
Foi ao sol de meio
dia
Que a vila escutou
O búzio de Zé Vieira
Que do morro ecoou
Euforia foi tão
grande
Que chapéus pro ar
voaram
Todo mundo festejava
A tainha que chegava
Braços fortes e mãos
seguras
Em canoas a remar
Ruma a proa remador
Ao cardume a
saltitar
Larga a rede, bate a
troia
Malha o peixe a
sobejar
Puxa o cabo
companheiro
Tá na hora de fechar
Nunca vi tão grande
lanço
É pra mais de oito
mil
Peixe seco vai durar
Até o mês de abril
A tainha é sagrada
Traz na escama a
imagem
Da Divina nossa mãe
Senhora Aparecida
Ao divino criador
Rezo agora e beijo o
mar
À São Pedro pescador
Umas mil vou ofertar
Vai ter tainha
assada
Na festa do arraiá
Ova frita,
concertada...
Muito Xiba vão
dançar
Isso que aconteceu
Já se faz bastantes
anos
Dos que viram tal
fartura
Hoje tem setenta
anos
Esses versos que eu
faço
É só para lembrar
Dos costumes dessa
terra
De outrora, da
fartura
Fotografia ainda
existe
Graças a seu Edson
Athanásio
Que preserva com
carinho
A memória ubatubana
Se sobrar um
dinheirinho
Peço aos nossos
governantes
Que preservem essas
fotos
Como grande
patrimônio
Patrimônio que
relembra
A memória de um povo
Povo que não tem
memória
Fica ao léu a
desvairar.
Desse texto, só vem a mente a imagem de Nossa Senhora Aparecida nas escamas da tainha, algo que eu conferia como criança e que me convenci sobre a presença da grande Mãe!!!
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