Folheto cultural - início de 1990 (Arquivo JRS) |
Eu
nasci na Praia do Sapê, onde a vida era bem simples e a gente vivia
praticamente com os recursos que a terra oferecia. Meus parentes se viravam
nesse meio ambiente, meus pais nos sustentavam assim. O turismo começava a
aparecer, os primeiros loteamentos ofereciam outras profissões (servente, cortador
de pedra, pedreiro, carpinteiro, caseiro...).
Os
primeiros turistas procuravam as coisas que caracterizavam os caiçaras: queriam
saber sobre os peixes, os mariscos... Queriam aprender nossa culinária, pescar
nas pedras e no largo, comer farinha de mandioca, beiju, piché etc. Ah! Foi
também aí que começou a valorização de nossas artes. Virou artesanato tudo
aquilo que era feito por nós para viver nesse ambiente. Eram os nossos
recursos.
Um
artesanato muito procurado foi a cestaria. Sabe aqueles balaios, samburás,
tipitis e peneiras que tanta serventia tinha à família caiçara? Pois é! Tudo
passou a ser mais uma fonte de atrativo turístico e de renda. Meus avós eram bons nisso! Tia Terezinha, lá
no Sertão da Quina era boa nisso! Mariana e seus familiares produziam cestos
maravilhosos! Pedro Brandão arrasava em seus tipitis!
Cestaria
é arte primitiva, herança dos antigos habitantes desta terra (Ubatuba). Foi preservada
porque era essencial na lida diária. Tudo a partir do taquaruçu, da
taquara-poca, da timbopeva, do imbé e de
outras matérias que se encontram na nossa mata, pelas picadas da serra. Não é fácil escolher, raspar, destalar e abrir
em fitas o taquaruçu, mas deveria ser mantida essa arte, esse traço cultural
nosso. Teve um tempo em que os responsáveis pelo setor cultural da cidade
investiram mais nessa arte, divulgaram, catalogaram, promoveram exposições. Até a Tia Terezinha fez parte de um curso
oferecido pela Promoção Social de Ubatuba às pessoas interessadas na tradição e
na cultura caiçara!
Resumindo,
eu gostaria que houvesse mais investimentos em tudo aquilo que constitui encantos além do mar. Assim, quem sabe, mais gente vai valorizar coisas, puxar pelas memórias que estão
morrendo, sendo engolidas pela massificação cultural da atualidade. A cestaria
é um aspecto decorrente da nossa galinha dos ovos de ouro, do nosso entorno ambiental
que gerou a cultura caiçara. Vamos pensar nisso, retomar o fio da meada que
atende por turismo cultural?
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