quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

ENCANTOS ALÉM DO MAR

Folheto cultural - início de 1990 (Arquivo JRS)

               Eu nasci na Praia do Sapê, onde a vida era bem simples e a gente vivia praticamente com os recursos que a terra oferecia. Meus parentes se viravam nesse meio ambiente, meus pais nos sustentavam assim. O turismo começava a aparecer, os primeiros loteamentos ofereciam outras profissões (servente, cortador de pedra, pedreiro, carpinteiro, caseiro...).
               Os primeiros turistas procuravam as coisas que caracterizavam os caiçaras: queriam saber sobre os peixes, os mariscos... Queriam aprender nossa culinária, pescar nas pedras e no largo, comer farinha de mandioca, beiju, piché etc. Ah! Foi também aí que começou a valorização de nossas artes. Virou artesanato tudo aquilo que era feito por nós para viver nesse ambiente. Eram os nossos recursos.
               Um artesanato muito procurado foi a cestaria. Sabe aqueles balaios, samburás, tipitis e peneiras que tanta serventia tinha à família caiçara? Pois é! Tudo passou a ser mais uma fonte de atrativo turístico e de renda.  Meus avós eram bons nisso! Tia Terezinha, lá no Sertão da Quina era boa nisso! Mariana e seus familiares produziam cestos maravilhosos! Pedro Brandão arrasava em seus tipitis!
               Cestaria é arte primitiva, herança dos antigos habitantes desta terra (Ubatuba). Foi preservada porque era essencial na lida diária. Tudo a partir do taquaruçu, da taquara-poca, da timbopeva, do imbé  e de outras matérias que se encontram  na nossa mata, pelas picadas da serra.  Não é fácil escolher, raspar, destalar e abrir em fitas o taquaruçu, mas deveria ser mantida essa arte, esse traço cultural nosso. Teve um tempo em que os responsáveis pelo setor cultural da cidade investiram mais nessa arte, divulgaram, catalogaram, promoveram exposições.  Até a Tia Terezinha fez parte de um curso oferecido pela Promoção Social de Ubatuba às pessoas interessadas na tradição e na cultura caiçara!

               Resumindo, eu gostaria que houvesse mais investimentos em tudo aquilo que constitui encantos além do mar. Assim, quem sabe, mais gente vai valorizar coisas, puxar pelas memórias que estão morrendo, sendo engolidas pela massificação cultural da atualidade. A cestaria é um aspecto decorrente da nossa galinha dos ovos de ouro, do nosso entorno ambiental que gerou a cultura caiçara. Vamos pensar nisso, retomar o fio da meada que atende por turismo cultural?

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