1993 - Regina, Pedro e pescadores do Saco do Sombrio (Arquivo JRS) |
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A ESCOLA DA VIDA - Regina Natividade de Azevedo
(Parte I)
Relato de uma experiência vivida
por uma professora numa escola isolada localizada ao norte da Ilhabela – EEPGER
Paranabi
Como é o nosso espaço físico
A EEPGER Paranabi é uma
escola de emergência rural e/ou isolada. O nome por si só já traduz o significado dessas pequenas escolas
espalhados por todo o nosso litoral. Muitas delas mal construídas por falta de
verba do estado, que parece nem saber que elas existem.
A escolinha em que trabalho fica localizada
ao norte da Ilhabela, gastando-se em média para chegar lá, de duas horas e meia
a três horas de viagem de barco, costeando a ilha. Nela já foram realizadas
três reformas por membros da comunidade local. Homens, mulheres e até crianças
participam. Parte do material é doado pela prefeitura (tinta, cimento, telhas)
e parte, em alguns casos, pela própria comunidade (madeiramento e mão de obra).
A água que tomamos corre de uma
nascente para a caixa d’água. Como em outras escolas isoladas, não há eletricidade.
Vivemos à base de óleo diesel, muito usado pelos pescadores dessas comunidades.
Nessas escolas funcionam
principalmente as séries iniciais, pois os alunos frequentam o curso até no
máximo a 4ª série quando, por algum motivo (geralmente trabalho), abandonam o s
estudos. Às vezes não chega a completar a 3ª série ou apenas dão início aos
estudos, sem assiduidade.
O início
A chegada foi um tanto quanto
difícil. A dificuldade foi me adaptar às pessoas, seus costumes e aos
acontecimentos do cotidiano, como por exemplo, enfrentar ataques de morcegos,
de formigas, de traças e borrachudos, o que é bastante comum. No início parece
que tudo seria fácil, porque o número de alunos era pequeno e a força de
vontade bastante grande, tanto da minha parte como da parte das crianças. Para
elas, tudo era novidade, segundo o que diziam a respeito de outras experiências
com professores que haviam estado por ali. Não havia em mãos nenhum planejamento
para início e/ou continuidade de trabalho.
No começo tive de impor algumas
regrinhas básicas como a limpeza da sala de aula, da caixa d’água, do terreiro das
escola, a higiene antes e após merenda, o respeito pelos colegas e por mim.
Após um tempo, iniciamos a experiência de deixar os alunos ajudarem no preparo
da merenda, inclusive com alimentos do lugar (peixe, farinha e banana).
Tê-los como ajudantes foi uma
experiência que deu certo, de forma a não sobrecarregar a professora, já que
aqui temos de ser de tudo um pouco (faxineira, merendeira, secretária etc.). Na
avaliação deles, disseram que com isso
aprenderam a cozinhar e também aprenderam sobre o valor dos alimentos. Após a
refeição, todos ajudam na limpeza da cozinha para então darmos sequência aos
estudos.
Desenvolvimento do trabalho
Não adotei métodos tradicionais,
como a cópia mecanizada, sem leitura ou entendimento, nem mesmo a cartilha,
cujo aprendizado limita todo o conhecimento da criança. Procurei aos poucos
mostrar a importância de se expressarem através da música, da pintura, do
desenho e do manuseio de papéis, como a dobradura. Teve também o trabalho com
sucatas. Também procurei trabalhar as diversas atividades envolvendo todos os
alunos, sem que houvesse qualquer tipo de discriminação ou preconceito entre
eles por motivo de idade ou diferenças de série, pois, sob um certo aspecto,
estão todos no mesmo barco.
Uma das dificuldades encontradas
foi a falta de orientação pedagógica de como e por olnde começar a trabalhar e,
já que não tive, resolvi buscar informações a respeito da comunidade junto a
mesma, envolvendo os alunos e demais moradores do Sombrio. Parti de um roteiro
cujo tema central era conhecer a história do Sombrio. Eis o roteiro:
Aspectos geográficos,
localização, espécies de árvores e plantas nativas.
História do Sombrio: o porquê do
nome, o número de moradores (antigamente e atualmente).
Atividades de trabalho: a pesca,
a roça, a caça, a criação.
Aspectos sociais: as superstições, os relacionamentos, o lazer, a
relação com a natureza, uso de plantas medicinais, artesanato, religiosidade,
histórias do local, festividades, principais problemas enfrentados pelos
moradores.
A história da escola: em que ano
surgiu, datas das reformas, participação da comunidade, movimento ou atividade
envolvendo professor.
Sozinha e quase sem experiência
como professora, me vi numa comunidade que passou por um processo de alterações
peculiares. Muitos dos moradores tradicionais saíram de lá. O que se encontra
lá hoje é uma comunidade em formação, em processo de acomodação e, portanto,
não se consegue resgatar a história do local. Quando cheguei, em fevereiro
deste ano (1993), moravam cerca de 12 famílias e hoje este número está reduzido
a 7 famílias, somando um total de 28 pessoas. Com essas e mais algumas
informações que as pessoas me passavam, eu me animava em dar continuidade ao
estudo do local, um estudo que fosse iniciado com os próprios alunos, passando
por seus pais, avós e ex-moradores do Sombrio, hoje jogados sabe lá Deus como e
onde...
Como se formou essa comunidade? Qual sua origem étnica? Essa postagem despertou a curiosidade.
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