Meu povo caiçara na escola (Arquivo Ir. Iolanda) |
Bem-vinda ao blog, Mel Fulli Frias!
Conversando
com a amiga Neide, do Saco dos Morcegos, da família Antunes de Sá, recordamos
do tempo em que ela e outras meninas foram acolhidas na A.L.A (Assistência ao
Litoral de Anchieta), sob os cuidados das religiosas Cônegas de Santo Agostinho,
cuja obra começou em 1957 e se findou em 1986, quando a prefeitura comprou o
prédio onde funcionou essa importante obra assistencial e educacional da
caiçarada. Vou me valer do livro Semeadoras
da esperança, escrito por Liz Cintra Rolim, umas das freiras que aqui
exerceu a sua missão, para dar a conhecer outros detalhes da nossa cultura. Vale também saber como fomos recompensados por pessoas
fantásticas, tal como a Dª Virgínia Lefèvre, que tive o prazer de entrevistar
em 1980, na praia do Canto do Acaraú, onde era a sua moradia. Que mundo de
livros ela tinha!
Tudo
começou com as famosas Caravanas, que proporcionavam o “mergulho” num mundo
diferente, contribuindo para confirmar a própria identidade posta em face ou
confrontada com outras alteridades. E, numa época em que não se pensava, nem se
falava em “INCULTURAÇÃO”, as Caravanas foram o meio prodigioso para se
descobrir não só a riqueza e os valores, mas também as limitações de uma forma
de ver, sentir, viver, transformar e se comunicar com o mundo.
Esta
experiência foi vivenciada no litoral norte. O trabalho congregou esforços da “Caravana
Social Litorânea”, dirigida pelo Pe. João Beil e os da “Sociedade Pró-Educação
e Saúde de São Paulo”. O relatório nos diz:
“No
barco do Sr.Albino rumamos para a praia da Almada, a duas horas distante de
Ubatuba. Mar grosso. Natureza belíssima. Um esplendor do Criador que não se
repete! Ao passar pela praia do Félix, o diretor da Caravana Social Litorânea,
Pe. João Beil, ex-vigário de Ubatuba, , serviu de um chifre de boi para chamar
os pescadores que se encontravam na praia. Imediatamente uma frágil barquinha é
lançada ao mar. Alegria de ambas as partes ao se reconhecerem. O Padre pede que
os moradores de Ubatumirim sejam avisados que haverá missa, confissões,
batizados, casamentos e crismas. Seguimos viagem para aportarmos na Almada.
Pertinho
da praia, a Escola pequenina; mais adiante algumas casas de pescadores,
cobertas de telhas e bem apresentadinhas. As crianças achavam-se em hora de
recreio e brincavam alegremente. Acorreram para receber as visitas, mas ao me
verem vestida com hábito – pois fui uma das primeiras a descer, - recuaram,
pois nunca haviam visto uma religiosa. Aproximei-me deles amigavelmente e logo
fizemos amizade.
Padre
João é recebido com muito entusiasmo por todos que o consideram e estimam com
um pai e amigo. Os adultos são todos analfabetos. Só as crianças se beneficiam
da aprendizagem na escolinha aberta há pouco tempo pela “Sociedade Pró-Educação
e Saúde” cuja presidente é Dª Virgínia Lefèvre, que se tornou a advogada do
lugar. A ela recorrem em caso de dificuldade e de doença. Todos ali vivem da
pesca e da lavoura. Lutam com a vida rude do mar e as dificuldades da
plantação, facilmente devoradas pelas formigas saúvas. Na praia, uma capelinha
de telha vã abre suas portas para o mar e contempla um panorama grandioso
cercado por montanhas que se perdem na bruma do horizonte.
Após o almoço, recreação com as crianças, finalizando com uma aula de catecismo, todos sentadinhos em semicírculo na areia. Fiz algumas visitas domiciliares às famílias dos pescadores, acompanhada pela professora local, moça católica e muito gentil (...) À noite, eu e Dª Virgínia, ficamos alojadas na sala da escola. Algumas carteiras foram recuadas e duas largas esteiras estendidas no chão. Nenhuma instalação sanitária. Água a ser buscada numa bica bem distante dali. Tudo primitivo e rústico”.
Após o almoço, recreação com as crianças, finalizando com uma aula de catecismo, todos sentadinhos em semicírculo na areia. Fiz algumas visitas domiciliares às famílias dos pescadores, acompanhada pela professora local, moça católica e muito gentil (...) À noite, eu e Dª Virgínia, ficamos alojadas na sala da escola. Algumas carteiras foram recuadas e duas largas esteiras estendidas no chão. Nenhuma instalação sanitária. Água a ser buscada numa bica bem distante dali. Tudo primitivo e rústico”.
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