sábado, 30 de janeiro de 2016

POR ONDE ANDA O CORAÇÃO


              
Garça na Pedra do Largo (Arquivo JRS)
Coração a bombordo é o título do terceiro livro de poesia do mano Mingo. Como já escreveu a seu respeito o João Luiz Cardoso, “a maioria de seus poemas tem relação com o mundo caiçara ou sobre assunto do mar, mas sempre com uma pitada de nostalgia”. É, tá certo, João!


CORAÇÃO A BOMBORDO

Eu gosto de acordar
e ficar um tempo escutando os ruídos
que vem do mundo que desperta:
o ruído ritmado do mar,
a algaravia das gaivotas,
os barcos que zarpam para a pesca...
Eu gosto de despertar e notar
que o mundo continua em ordem,
o mundo rolando pra leste,
meu coração a bombordo,

a bela adormecida a boreste.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

AS RUÍNAS (II)

Ruínas nas Galhetas (Arquivo JRS)


                De vez em quando alguém entra em contato comigo para saber a respeito das ruínas no município de Ubatuba. De algumas delas eu já escrevi, dei a minha contribuição, mas sempre tem novidades para quem vasculha textos e escuta a prosa dos mais experientes. Hoje, a partir do documento de Félix Guisard Filho, está em questão a ruína da Tabatinga, que muita gente sequer imagina que possa existir. Acredito que este assunto ainda possa interessar a alguém. Espero!
                A antiga Fazenda Tabatinga estava localizada perto da farta queda d’água que vinha da Serra da Lagoa. Atualmente corresponde ao entroncamento da Estrada das Galhetas [corvo s marinhos], de onde parte a Estrada da Lagoa. O mato cobriu a área, as pessoas jogam lixo e as colunas e paredes estão esquecidas. Quem sentirá a falta desses monumentos caso alguém se resolva por uma ação criminosa, contra o patrimônio cultural?
                Em 1838 houve diligência ao local após denúncia de ser referência no contrabando de escravos, quando a Inglaterra fazia de tudo para acabar com o tráfico dos negros africanos. Com adaptação minha, vamos ao documento da época:

                Aos treze dias do mês de março de mil oitocentos e trinta e oito, nesta Secretaria de Polícia, compareceu Euzébio José Rodrigues de Freitas, negociante, morador na rua Formosa, da Cidade Nova, nº 22, e em virtude do despacho desta, em sua petição foi-lhe tomada a denúncia seguinte: que na fazenda denominada Tabatinga, próxima da Ilha de São Sebastião, cujo proprietário José Bernardino de Sá, morador nesta Corte, está presentemente sendo um dos mais frequentados pontos de desembarque de africanos boçais, e que ultimamente ali aportaram, em janeiro, dois barcos carregados deles. Indignadas algumas pessoas das vizinhanças reuniram-se com armas para dispersá-los, e fazer, com isto, que tais contrabandistas deixassem aquele ponto, cuja frequência já se tornou escandalosa.   Disse mais: que o dito José Bernardino, para melhor fortificar-se, ali havia construído uma espécie de forte de madeira, guarnecido de doze ou treze colonos, e muitas outras pessoas de artilharia para defender o desembarque de seu contrabando. Outrossim declarou que estava a chegar ali o brigue escuna-paquete de Luanda, outrora Espadartes, que é pertencente ao mesmo Sá, com nome suposto, cujo brigue é guarnecido por duas peças [canhões] e um estandarte que é desmontado e oculto no porão logo que aqui entra. E dando por concluída a denúncia, assinou o presente termo por achá-lo conforme. Euzébio Roiz de Freitas. Joaquim M. Maia.

                De acordo com a data, levando-se em conta que o Porto de Santos era suficientemente vigiado pelos ingleses, é fácil de entender essas empreitadas para o contrabando. A propósito, o referido José Bernardino tem história nisso. Clóvis Moura, em Dicionário da Escravidão no Brasil, cita-o:

                “José Bernardino de Sá iniciou sua carreira como empregado de uma loja no Rio de Janeiro, mas, em 1830, quando o tráfico estava se tornando totalmente ilegal, já estava embarcando escravos para o Brasil em seu próprio navio, o Amizade Feliz. Três ou quatro anos depois, agora dado como uma herança que ele investiu no tráfico, Bernardino de Sá estava instalando postos escravistas na costa africana ao sul do Equador, onde os portugueses ainda mantinham um tráfico legal e os cruzeiros britânicos normalmente não intervinham. Fazendo escambo de tecidos na África e utilizando a bandeira portuguesa para proteger seus navios de captura pelos britânicos, o jovem negociante logo ficou rico, famoso e com títulos”.     

                Assim, que tal conhecer e lutar pela preservação de nosso patrimônio cultural e torná-lo mais uma fonte de turismo?

sábado, 16 de janeiro de 2016

AS RUÍNAS


             O tempo passa, mas muitas obras ou seus vestígios ficam. Mesmo estando em ruínas, elas constituem nosso patrimônio cultural e têm um potencial turístico que a maioria dos ubatubenses sequer consegue imaginar.  Nesta semana, apreciando a fotografia do estimado Donizete Campos, eu resolvi escrever a respeito do local onde ele parece, ou seja, de braços abertos na lateral das ruínas da Fazenda Lagoinha.
Donizete em acolhida (Arquivo Donizete)
  
                De acordo com o Seo Filhinho, a respeito da citada fazenda, “cujos escombros ainda existem, os deturpadores da História dizem ter pertencido a um mosteiro. Aquelas ruínas, na realidade, provem da fazenda do Capitão Romualdo, homem bastante abastado e empreendedor, que além de possuir vasta cultura de café e cana de açúcar, fazia funcionar seus engenhos, com o que fabricava aguardente e açúcar mascavo, produtos que embarcava para o estrangeiro. Com seu espírito progressista, planejou exportar a aguardente devidamente embalada, necessitando, porém, de vasilhame apropriado. Foi quando deu início à construção de uma fábrica de garrafas, nas proximidades da praia, que não conseguiu concluir, e cujos pilares ainda permanecem de pé, eretos, atestando o espírito progressista e empreendedor dos antigos homens ubatubenses. Não foi feliz, porém, Capitão Romualdo. Sua esposa, D. Mariana, enlouqueceu, dissipou e fez dissipar-se toda a fortuna de seu marido. Nos seus devaneios, a que foi levada por ciúme mórbido, escorraçava os escravos de seus misteres, paralisando as atividades da fazendo por prolongado tempo, justamente nos momentos mais precisos; inutilizava as colheitas nas tulhas abarrotadas; incendiava canaviais inteiros e fugiu muitas vezes, levando e esbanjando, tanto quanto possível, vultosos valores do marido. Certa vez, emissários que a procuravam, depois de uma larga ausência, foram encontrá-la arrasada, faminta, maltrapilha, em Angra dos Reis, para onde havia caminhado a pé, enfrentando as agruras daquele tempo”.

                Os antigos caiçaras atestavam que, devido a uns sacrilégios (atos torpes de “crentes” que foram no começo do século XX até as ruínas, quebraram e queimaram a imagem do santo padroeiro), algumas pessoas ilustres foram amaldiçoadas e terminaram seus dias em terríveis pestes e doenças. Desde essa época, o nosso povo simples até evita pisar naquele terreno. Mas eu recomendo: se espelhe no Donizete e em outros tantos, faça uma visita e exija das pessoas que recebem provimentos por pertencerem à “área cultural” do município mais empenho em dar o valor que nossos patrimônios merecem. 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

A NOSSA TERRA ENCANTA MESMO!





Igaraçu na Justa (Arquivo JRS)
            Na história do Brasil, desde a chegada dos portugueses em 1500, são muitos os registros de viajantes de outras nações descrevendo as pessoas desta terra, as características naturais, os costumes, as técnicas etc. Em relação ao nosso território, o alemão Hans Staden, depois de alguns meses num sufoco, quase virando refeição dos  tupinambás, voltou à sua terra e produziu o primeiro texto deste chão caiçara. Era o ano de 1556. Dele é a seguinte descrição, iniciando o capítulo vinte e seis,  que corrobora o nosso tema: “A cerca de quatro milhas de Ubatuba vivia um francês. Tendo ouvido a novidade a meu respeito, foi até a aldeia e dirigiu-se à cabana que ficava em frente ao meu cativeiro”. É isso! As migrações, que podem variar (necessidade, aventura etc.), levaram os homens ao maior conhecimento da Terra. E, graças aos registros, à transmissão oral, nós conhecemos e nos damos a conhecer. Victor Cousin assim escreveu: “Sim, senhores, deem-me a carta de um país, sua configuração, seu clima, suas águas, seus ventos e toda a sua geografia física; deem-me suas produções naturais, sua flora, sua zoologia, e eu me encarrego de vos dizer a priori que será o homem desse país, e que papel esse país desempenhará na História, não acidentalmente, mas necessariamente; não em tal época, mas em todas; o papel, enfim, que ele está chamado a representar”.
            O estimado José Nélio, agora morando no bairro do Corcovado, me incentivou a refletir um pouco mais neste tema (dos viajantes estrangeiros, num turismo cultural). Faço questão de compartilhar com vocês:

            “José Ronaldo, Bom dia. Tenho lido as suas crônicas e as suas iniciativas. Quero partilhar uma ideia que talvez nem seja novidade. Já falei em épocas diferentes com diversas pessoas, mas não consegui levar a conversa adiante. Tenho notado ultimamente um crescente interesse de turistas estrangeiros para a nossa região. Estou observando isto mais em Paraty. Creio que Ubatuba tenha tanto ou mais condições de atrair turistas estrangeiros, não em virtude (infelizmente) de sua arquitetura, mas em relação à história de vários países, que em momentos de guerras e de crises, fizeram com que muitas famílias  viessem para cá.
          Este assunto merece uma conversa sem hora para terminar. Mas como andamos em carreiros diferentes, esta é forma que achei para lhe passar algumas observações. No momento, toda essa movimentação de refugiados no mundo e um crescente interesse de turistas estrangeiros na região, principalmente em Paraty, chama a atenção para o que ocorreu no passado remoto e recente, com a vinda e o estabelecimento de pessoas e famílias para Ubatuba. Além dos portugueses, dos indígenas e africanos, aqui aportaram, entre muitos :

Franceses - várias famílias ainda conservam seus sobrenomes.
Italianos – No século XIX, vieram várias famílias para a Fazenda de Picinguaba. Telhas com a inscrição “fabriqué em Marseille” e o que hoje chamam de “casa de farinha”, são sinais que deixaram de sua presença. Ferreti e outras famílias continuam por aqui.
Russos – Alexandre Rodovitch. Segundo o que o próprio me falou : Formado em Direito na Universidade de São Petersburgo em 1910, ainda na época dos czares. Juiz Militar, condenou militares rebeldes. Estes vitoriosos com a Revolução Comunista de 1917, o prenderam. Esperava o fuzilamento. Não explicou como, mas na década de 1920 veio como refugiado para o Rio de Janeiro. Devido sua formação profissional foi designado para administrar a Fazenda Picinguaba que estava sob a propriedade do Banco Hipotecário do Brasil, após a falência da empresa que havia trazido os italianos. Conseguiu ser eleito vereador e Presidente da Câmara de Ubatuba. Recebeu em pagamento do Banco, extensa área no Sul da Praia da Fazenda. Dividiu em glebas e vendeu para russos, conforme documentação no Cartório de Registro de Imóveis de Ubatuba. Estas áreas estão no Parque da Serra do Mar e não foram desapropriadas.
Poloneses –No Perequê-açu,  o Jardim Cracóvia, loteamento, com os nomes de ruas de personalidades importantes da Polônia (inclusive M. Curie).  A família Swirsky veio para o Brasil e Ubatuba na época em que a Europa estava envolvida em conflitos. Deixaram sua marca também na Ressaca.
Japoneses – Além das várias plantações para atender inicialmente  a Ilha Anchieta, trouxeram do Japão a técnica do cerco flutuante para a região. Com a guerra (39-45) foram perseguidos. Os cercos ficaram com os caiçaras.
CONCLUSÃO que queria partilhar
            O estudo dessas migrações  poderia agregar valor histórico cultural a atividade turística, interessando sobretudo  estrangeiros,  que, no passado, a cada crise  buscavam nova vida em novas terras. E aqui se encontraram, viveram e continuam até hoje. Um abraço”.   


                 Agradeço ao Nélio. Preciso dizer mais o quê? Só devo recordar que nós temos, com toda essa riqueza cultural e ambiental, um chamado a representar. E este chamado está bem dizer pronto. Representá-lo bem é apenas questão de estratégia inteligente.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

SANTO REIS

       
Saudoso Mestre Ricardo Nunes, do Ubatumirim, especialista em rabecas (Arquivo Personalidades Caiçaras)
            Vale a pena reeditar, neste dia especial da tradição caiçara, lembrando dos versistas, tocadores e cantadores de reis.

        “Hoje é Dia de Santo Reis”. Alegremente anunciava o vovô Armiro assim que se levantava no dia seis de janeiro. Ninguém ia pescar, a roça descansava, o ritmo ficava lento: era feriado sagrado.

                Geralmente a "cantoria de reis" dura todo o mês de dezembro e vai até o sexto dia de janeiro. Excepcionalmente volta-se a cantar no dia dois de fevereiro, na comemoração de Nossa Senhora das Candeias, na Festa das Candeias.

                O grupo local (porque quase todas as localidades tinham o seu grupo!) muitas vezes cantava até o amanhecer, passando alegremente nas casas. Quase nunca ninguém sabia, mas, de certa forma, estavam esperando a visita, sabiam que em qualquer noite e a qualquer hora o grupo faria a sua visita. Por isso sempre tinha alguma coisa “de prontidão” para o “comes e bebes”.

                No dia próprio (seis de janeiro) a cantoria, ao anoitecer, sempre acontece na capela da comunidade. Todos cantam, se despedem com emoção do presépio.  Só no próximo Advento ele será novamente montado. É uma devoção popular que por muitos motivos está se esvaindo.

                A letra da música que eu transcrevo a seguir foi a que recolhi do grupo da praia do Sapê, onde a voz da saudosa comadre Vitória se destacava. Há variações, mas o tema é o mesmo: os reis da banda do Oriente que buscam localizar o menino-Deus. Segue-se a antiga tradição.

                1- Ó de casa cavalheiro/ Diga se eu posso entrar/ Se houver algum agravo/ Ai diga que eu quero voltar.
                2- Viemos cantar o rei/ Hoje mesmo que é devido/ Viemos trazer notícias/ Ai de Jesus  nascido.
                3- Os três reis encaminharam/ Pelas partes do Oriente/ Chegam na Corte de Herodes/  Ai perguntam de repente.
                4- Onde era nascido/ O verdadeiro Messias/  Rei Herodes respondeu/ Ai eu vou ver na  profecia.
                5- Lá na profecia reza/ Que era nascido em Belém/ Ides lá e voltais aqui/ Ai que eu  quero ir ver também.
                6- Herodes que nem malvado/ Que nem perverso, maligno/ Foi ensinar aos três reis/ Ai as avessas do caminho.
                7- Viagem que era de um ano/ Fizeram em quinze dias/ Porque foram bem guiados/ Ai pelo infante rei-Messias.
                8- Atrás daquela cabana/ Uma estrela aparecia/ Era neto de Sant’Ana/ Ai filho da Virgem Maria.
                9- São José quando se viu/ Entre nobres companhias/ De prazer e de alegria/ Ai não sabia o que fazia.
                10- Vinte e cinco de dezembro/ De meia-noite pro dia/ Nasceu o menino-Deus/ Ai filho da Virgem Maria.
                11- Eu não vos peço ofertas/ Que são coisas de valia/ luz acesa e porta aberta/ Ai e  afeição de alegria.
                12- Ó senhor que estais dormindo/ Nesse seu colchão dourado/ Vinde nos abrir a  porta/ Ai que aqui estão vossos criados.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

EXERCÍCIO DE AUTOCRÍTICA

Líquen vermelho no jundu da Praia da Lagoa (Arquivo JRS)

            Desenvolver e manter uma postura ideológica inclui inúmeras considerações que aqui, livremente, ouso colocá-la sob a palavra autocrítica.
            Quando alguém, a respeito da produção científica para as comunidades, questionou e me pediu exemplos (“O que fizeram por nós”), imediatamente eu pensei em casos/estudos próximos, onde a ciência provou por A+B o que era mais correto e viável, mas que não se realizou por estar na dependência da política. De acordo com o amigo Peter, isso porque “a política funciona através de uma lógica burra, aquela do interesse próprio, do corporativismo e da propina”. Ou seja, a ciência depende da política para ser implementada. Nesta atitude, é o caso das pesquisas no município de Ubatuba na área da pesca, do cultivo de algas, dos mexilhões, das técnicas  agrícolas, da sustentabilidade em torno de produtos locais etc. Elas provaram serem viáveis, mas seguem na mínima consideração ou foram abandonadas pelos governantes. E o que dizer das contribuições das pesquisas realizadas pelas décadas na Estação Experimental do Horto? Agora, é desolador ver a ruína que ali vai se estabelecendo.

            Apelei, então, ao citado amigo porque é alguém que está a todo vapor em suas pesquisas pela Universidade de São Paulo (USP- Nupaub), com toda a bagagem atualizada. Aos desinformados, ele está na base da Associação dos Pescadores da Enseada, no cultivo de mexilhões da região, na Oficina de Canoeiros, no Glossário Caiçara de Ubatuba e outras iniciativas que muito me orgulha. Desde já eu agradeço ao Peter Santos Németh.
            “O primeiro e mais importante exemplo é o próprio texto da RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) que entrou no SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação). Esse texto foi construído aqui dentro do Nupaub (Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras) e se transformou em lei, mas aí pra fazer valer ou implementar, tem a política”.
            “Alguns idealistas da academia, também não aceitam passar para ‘o outro lado’, o do dinheiro das consultorias, e trabalham a fim de empoderar as comunidades tradicionais. Exemplo: antropólogos a fazer laudos antropológicos para as comunidades quilombolas de todo o Brasil, e desse modo garantindo o direito à terra para essas comunidades, ele já conseguiu várias vitórias”.
            “E tem também nossos textos acadêmicos, como na enciclopédia caiçara, que pelo menos dão base de sustentação científica para as reivindicações das comunidades, mas novamente esbarramos na política. Existem também as convenções internacionais, construídas dentro de um universo híbrido politico-científico, como a 169 da OIT”.

            A Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho, cuja missão é promover o acesso de todos a um trabalho decente e produtivo para a superação da pobreza, a redução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável) é um instrumento para a inclusão social. No caso da América Latina, são 40 milhões de pessoas que estão esquecidas no caminho ao desenvolvimento.
            A Convenção 169 contempla assuntos relacionados à representatividade dos povos indígenas, a institucionalidade do Estado, a territorialidade, o acesso à educação e às condições de emprego, formação profissional e seguridade social dos indígenas. E quem está fornecendo as pesquisas, as hipóteses comprovadas, as teses aprovadas? É lógico que são contribuições dos muitos trabalhos científicos! E no litoral, no espaço caiçara, apesar de muitos pesquisadores, ainda há muito espaço e temas que ainda nem foram cogitados! Tive o prazer de ver no CEEJA (Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos, na Praia do Massaguaçu, Caraguatatuba), no ano passado, a formatura no Ensino Médio, do jovem Marcos, da Aldeia Renascer (Corcovado). Outros seguem o caminho dos estudos e prometem novos pontos de referência neste espaço caiçara. Oxalá!


            É sempre tempo de autocrítica para não se descuidar de uma postura ideológica de que a luta é pela vida. A propósito: o líquen vermelho, na fotografia que escolhi para este texto, é bioindicador de pureza atmosférica. Ele está espalhado pela mata preservada do jundu, na Praia da Lagoa. Foi o empenho de pesquisadores que deu esta comprovação científica. Cabe a nós não deixar uma orientação política dominada pela ganância detonar tudo, destruir a nossa riqueza ambiental e cultural.

sábado, 2 de janeiro de 2016

HÁ NATUREZA? HÁ VIDA!


           


Passando um tempo na Ilha do Prumirim (Arquivo JRS)



               Comecei bem o ano de 2016! Bem cedo fui buscar água na Fonte da Amizade, fiz a minha caminhada na Praia do Perequê-açu, cuidei das plantas, recebi a visitas de amigos, dei a minha contribuição na campanha dos livros para a biblioteca de Emaús e saí com a minha Gal, a minha Má e o meu Estevan para curtir um pouco no fim da tarde. Ah! Aproveitamos para visitar os meus irmãos Domingos  e Ana. Que beleza ver a sobrinhada bonita!

         Com o Marcelo Dantas teve assunto para ir bem longe. Conversamos sobre os rumos preferidos para a sociedade ubatubense, valorizando sobretudo aquilo que é a nossa maior riqueza: a natureza preservada. Depois de um tempo, ele saiu levando um grande volume de livros. Hoje já deve estar catalogando e prosseguindo o projeto que se resume em solidariedade e troca de experiências com a Comunidade de Emaús.

      Outra visita que eu já considero parte do ritual do primeiro dia de cada ano é a visita do Júlio e do Isaías Mendes, seu pai. Acho que até já posso considerá-lo como meu pai também.  Como é bom prosear com nossa gente! Depois...se despediram tomando o rumo da Cachoeira do Ipiranguinha. Eu retornei à faina de dar uma ordem nas coisas que vou ajuntando sempre. 

           Neste começo de ano, tomo como exemplo o Seo Aquino, morador da Ilha do Prumirim. Ali, na tranquilidade, socando umas cascas de pau de mangue, nós o encontramos na mesma disposição de prosear. 
       - Vai fazer o quê, Seo Aquino?
       - Vou tingir aquela rede ali. 
       - Faz tempo que o senhor está aqui?
      - Já tem trinta e cinco anos. O velho Francisco Munhoz me deixou tomando conta disto tudo. O pessoal que está por ali, vendendo coisas são meus filhos, netos e até bisnetos.
       - O senhor nasceu em que lugar?
       - Eu sou da Praia do Camburi. O meu pessoal é aquele que o senhor conhece bem: o Mané Inácio, o Genésio, o Antonio Inglês...todo mundo daquele lugar.

         E nos despedimos de olho na trovoada que se armava por cima do morro, escurecendo rapidamente o final da tarde e ameaçando a travessia para a terra.