O tempo passa, mas muitas obras ou seus
vestígios ficam. Mesmo estando em ruínas, elas constituem nosso patrimônio
cultural e têm um potencial turístico que a maioria dos ubatubenses sequer
consegue imaginar. Nesta semana,
apreciando a fotografia do estimado Donizete Campos, eu resolvi escrever a respeito do
local onde ele parece, ou seja, de braços abertos na lateral das ruínas da
Fazenda Lagoinha.
Donizete em acolhida (Arquivo Donizete) |
De
acordo com o Seo Filhinho, a respeito da citada fazenda, “cujos escombros ainda existem, os deturpadores da História dizem ter
pertencido a um mosteiro. Aquelas ruínas, na realidade, provem da fazenda do
Capitão Romualdo, homem bastante abastado e empreendedor, que além de possuir
vasta cultura de café e cana de açúcar, fazia funcionar seus engenhos, com o
que fabricava aguardente e açúcar mascavo, produtos que embarcava para o
estrangeiro. Com seu espírito progressista, planejou exportar a aguardente
devidamente embalada, necessitando, porém, de vasilhame apropriado. Foi quando
deu início à construção de uma fábrica de garrafas, nas proximidades da praia,
que não conseguiu concluir, e cujos pilares ainda permanecem de pé, eretos,
atestando o espírito progressista e empreendedor dos antigos homens
ubatubenses. Não foi feliz, porém, Capitão Romualdo. Sua esposa, D. Mariana,
enlouqueceu, dissipou e fez dissipar-se toda a fortuna de seu marido. Nos seus
devaneios, a que foi levada por ciúme mórbido, escorraçava os escravos de seus
misteres, paralisando as atividades da fazendo por prolongado tempo, justamente
nos momentos mais precisos; inutilizava as colheitas nas tulhas abarrotadas;
incendiava canaviais inteiros e fugiu muitas vezes, levando e esbanjando, tanto
quanto possível, vultosos valores do marido. Certa vez, emissários que a
procuravam, depois de uma larga ausência, foram encontrá-la arrasada, faminta,
maltrapilha, em Angra dos Reis, para onde havia caminhado a pé, enfrentando as
agruras daquele tempo”.
Os
antigos caiçaras atestavam que, devido a uns sacrilégios (atos torpes de “crentes”
que foram no começo do século XX até as ruínas, quebraram e queimaram a imagem
do santo padroeiro), algumas pessoas ilustres foram amaldiçoadas e terminaram
seus dias em terríveis pestes e doenças. Desde essa época, o nosso povo simples
até evita pisar naquele terreno. Mas eu recomendo: se espelhe no Donizete e em outros
tantos, faça uma visita e exija das pessoas que recebem provimentos por
pertencerem à “área cultural” do município mais empenho em dar o valor que
nossos patrimônios merecem.
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