Igaraçu na Justa (Arquivo JRS) |
Na história do Brasil, desde a chegada dos portugueses em
1500, são muitos os registros de viajantes de outras nações descrevendo as
pessoas desta terra, as características naturais, os costumes, as técnicas etc.
Em relação ao nosso território, o alemão Hans Staden, depois de alguns meses
num sufoco, quase virando refeição dos
tupinambás, voltou à sua terra e produziu o primeiro texto deste chão
caiçara. Era o ano de 1556. Dele é a seguinte descrição, iniciando o capítulo
vinte e seis, que corrobora o nosso
tema: “A cerca de quatro milhas de
Ubatuba vivia um francês. Tendo ouvido a novidade a meu respeito, foi até a
aldeia e dirigiu-se à cabana que ficava em frente ao meu cativeiro”. É
isso! As migrações, que podem variar (necessidade, aventura etc.), levaram os
homens ao maior conhecimento da Terra. E, graças aos registros, à transmissão
oral, nós conhecemos e nos damos a conhecer. Victor Cousin assim escreveu: “Sim, senhores, deem-me a carta de um país,
sua configuração, seu clima, suas águas, seus ventos e toda a sua geografia
física; deem-me suas produções naturais, sua flora, sua zoologia, e eu me
encarrego de vos dizer a priori que será o homem desse país, e que papel esse
país desempenhará na História, não acidentalmente, mas necessariamente; não em
tal época, mas em todas; o papel, enfim, que ele está chamado a representar”.
O estimado José Nélio, agora
morando no bairro do Corcovado, me incentivou a refletir um pouco mais neste
tema (dos viajantes estrangeiros, num turismo cultural). Faço questão de
compartilhar com vocês:
“José Ronaldo, Bom
dia. Tenho lido as suas crônicas e as suas iniciativas. Quero partilhar uma
ideia que talvez nem seja novidade. Já falei em épocas diferentes com diversas
pessoas, mas não consegui levar a conversa adiante. Tenho notado ultimamente um
crescente interesse de turistas estrangeiros para a nossa região. Estou
observando isto mais em Paraty. Creio que Ubatuba tenha tanto ou mais condições
de atrair turistas estrangeiros, não em virtude (infelizmente) de sua arquitetura,
mas em relação à história de vários países, que em momentos de guerras e de
crises, fizeram com que muitas famílias viessem para cá.
Este assunto merece uma conversa sem
hora para terminar. Mas como andamos em carreiros diferentes, esta é forma que
achei para lhe passar algumas observações. No momento, toda essa movimentação
de refugiados no mundo e um crescente interesse de turistas estrangeiros na
região, principalmente em Paraty, chama a atenção para o que ocorreu no passado
remoto e recente, com a vinda e o estabelecimento de pessoas e famílias para
Ubatuba. Além dos portugueses, dos indígenas e
africanos, aqui aportaram, entre muitos :
Franceses - várias famílias ainda conservam seus
sobrenomes.
Italianos – No século XIX, vieram várias famílias
para a Fazenda de Picinguaba. Telhas com a inscrição “fabriqué em Marseille” e
o que hoje chamam de “casa de farinha”, são sinais que deixaram de sua
presença. Ferreti e outras famílias continuam por aqui.
Russos – Alexandre Rodovitch. Segundo o que o
próprio me falou : Formado em Direito na Universidade de São Petersburgo em
1910, ainda na época dos czares. Juiz Militar, condenou militares rebeldes.
Estes vitoriosos com a Revolução Comunista de 1917, o prenderam. Esperava o
fuzilamento. Não explicou como, mas na década de 1920 veio como refugiado para
o Rio de Janeiro. Devido sua formação profissional foi designado para
administrar a Fazenda Picinguaba que estava sob a propriedade do Banco
Hipotecário do Brasil, após a falência da empresa que havia trazido os
italianos. Conseguiu ser eleito vereador e Presidente da Câmara de Ubatuba.
Recebeu em pagamento do Banco, extensa área no Sul da Praia da Fazenda. Dividiu
em glebas e vendeu para russos, conforme documentação no Cartório de Registro
de Imóveis de Ubatuba. Estas áreas estão no Parque da Serra do Mar e não foram
desapropriadas.
Poloneses –No Perequê-açu, o Jardim
Cracóvia, loteamento, com os nomes de ruas de personalidades importantes da
Polônia (inclusive M. Curie). A família Swirsky veio para o Brasil e
Ubatuba na época em que a Europa estava envolvida em conflitos. Deixaram sua
marca também na Ressaca.
Japoneses – Além das várias plantações para
atender inicialmente a Ilha Anchieta, trouxeram do Japão a técnica do
cerco flutuante para a região. Com a guerra (39-45) foram perseguidos. Os
cercos ficaram com os caiçaras.
CONCLUSÃO que queria partilhar
O
estudo dessas migrações poderia agregar valor histórico cultural a
atividade turística, interessando sobretudo estrangeiros, que, no
passado, a cada crise buscavam nova vida em novas terras. E aqui se
encontraram, viveram e continuam até hoje. Um abraço”.
Agradeço ao Nélio. Preciso dizer
mais o quê? Só devo recordar que nós temos, com toda essa riqueza cultural e
ambiental, um chamado a representar. E este chamado está bem dizer pronto.
Representá-lo bem é apenas questão de estratégia inteligente.
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