“Ai meu
São Gonçalinho
Ele é tão
bonitinho
Ele dorme
na cama
Ele bebe
seu vinho
Ai meu santo São Gonçalo
Ai meu Santo São Gonçalo”.
Pensando neste verso, parte de uma música que
gravei com o saudoso Aristeu, na Praia da Ponta Aguda, em meados de 1980, me
coloquei no espírito do 1º Encontro de Fandango Caiçara, ocorrido dias atrás,
em Ubatuba. Em especial presto homenagem à Mercedes e sua equipe que se
esmeraram no preparo do peixe com banana verde. Bons tempos na comunidade do Itaguá,
né Mercedes? Né, Élvio?
Comecei o dia ainda pesaroso com a notícia dada
pelo Nísio, um caiçara dançador de Congada, natural do Sertão do Puruba: “O
Pedro Brandão morreu, Zé”.
Foi um golpe
perder mais um cantador de Ubatuba. O Aristeu da Ponta Aguda me garantiu que a
música e a dança de São Gonçalo aprendida por ele na década de 1950, foi
ensinada pelo Pedro Brandão: “Ele, a cada ano corria a Folia por todas as
praias e sertões. E nós aprendemos com ele tudo isso que nós continuamos até
hoje. De acordo com o Pedro Brandão, São Gonçalo é protetor dos violeiros e
santo da fertilidade, protetor das prenhas". Depois da parte votiva, das cantorias sagradas, vinha a
parte profana. Era a função, parte sagrada (que não podia faltar) da
religiosidade dos caiçaras, onde os dançarinos suavam em ciranda, cana-verde,
xiba, tontinha etc. até o sol despontar no horizonte do mar. Naquele tempo,
onde somente os Caminhos de Servidão sustinham nossas passadas, andar por todos
os lugares não era fácil! O Pedro morava no Sertão do Puruba; o Aristeu na
Ponta Aguda. Ou seja, quase setenta quilômetros separam os dois bairros.
Outra notícia que me surpreendeu foi a da morte do
querido professor Hércules Cembranelli. Com este mestre eu aprendi a gostar
ainda mais de estudar História. Assim a morte vai levando as nossas bibliotecas
humanas que dependem de nossas memórias para se tornarem imortais.
Espero que esse encontro, que teve representantes da
Cananéia até Paraty, se torne o marco de reorganização da cultura caiçara.
Assim, transcrevo a letra cantada por Pedro Brandão. Está no CD Canto Caiçara,
de 1999:
“Este Bendito louvado
Foi feito com fundamento
Recordai as minhas culpas
Suspendei meu pensamento”.
E perguntei ao Nísio: “Em que idade tava o Pedro?”.
“No documento ele tinha 93 anos. Mas ele era do mato, né Zé. Gente assim tem
muito mais daquilo que tá no papel!”.
Lindo texto amigo Zé Ronaldo, pena que aos poucos estamos perdendo os Caiçaras antigos que podem transmitir nossa cultura aos mais novos e a nós mesmos, por isso é muito interessante sairmos a campo a busca destas relíquias.
ResponderExcluirCertamente, Pedro. Vamos fazendo um pouquinho, conforme o tempo e os compromissos. Um abraço. Tenha uma boa semana,
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