sexta-feira, 13 de novembro de 2015

PROTAGONISMO JUVENIL (?)

Carcará na praia (Arquivo JRS)
                     A juventude que se edifica no espaço caiçara pode e deve rever conceitos que impedem novas e libertadoras atitudes. Foi-se o tempo em que, devido ao isolamento geográfico, o nosso viver era mais simples e sem afetação dos grandes temas da humanidade. O sentido da vida tem que ultrapassar as mensagens muitas vezes imbecis e alienantes veiculadas nos minúsculos aparelhos eletrônicos, nas redes sociais etc. O desafio é alcançar uma totalidade reflexiva . A frase cristã de "quem é fiel no pouco é fiel no muito" pode ser ilustrativa na vontade de rever todos os aspectos da vida em sociedade (política, ambiental, comportamental etc.) a partir das mínimas ações. 
               
       Um dos meus professores,  na minha relativa distante adolescência, era um grande idealista, um motivador dos nossos sonhos, tal como a maioria dos mestres que tanto estimo. Para entender o que vem a seguir, é preciso contextualizar aquele momento histórico: vivíamos sob o governo do general  Médici, começando a década de 1970, em que era exercido um grande controle das liberdades, com censuras e punições horrendas a qualquer iniciativa considerada subversiva do ponto de vista moral e político.
                Voltando ao professor em questão, percebendo que éramos resultado de uma sociedade simples, comandada pela religiosidade católica que ainda nem tinha assimilado o básico das revisões doutrinárias do Concílio Vaticano II, ele desenvolvia estratégias interessantes, com métodos exigentes de dedicação e estudos. Numa ocasião, ao abordar a sexualidade humana, ele advertiu: “O momento político que vivemos no Brasil é tenso; talvez eu até perca o meu cargo como professor de vocês, mas eu acredito que é mais correto vocês aprenderem comigo, a partir  das pesquisas sérias e atualizadas, do que serem instruídos pelo ‘açougueiro da esquina’, de forma equivocada e até mesmo com segundas intenções”. E assim eu e a minha turma aprendemos sobre o próprio corpo, as questões higiênicas, os temas polêmicos da discriminação étnica, homossexualismo, machismo etc. Sem dúvida, esse mestre foi alguém que lançou outras luzes na nossa vivência. Atualmente, relembrando ou reencontrando colegas daquela turma, sinto o quanto fez diferença ter um professor que ousou mais do que os outros.
                O que estou pretendendo com esta introdução? É simples: a família deve ser a porta de entrada do processo educativo das pessoas, mas a escola, no seu papel formativo, não pode se omitir de fornecer mais elementos para a constituição da cidadania plena. Assim, preconceito étnico, diversidade cultural, meio ambiente, violência contra homossexuais, desigualdades sociais e outros temas são, sim, pertinentes e urgentes. Caso contrário, prevalecerá as mentalidades tacanhas de fanáticos (políticos, religiosos etc.), de uma gama de gente ingênua ou mal intencionada, desejando se aproveitar , impor ideologias escravizadoras. A História, através de personagens singulares, nos ensina a partir de outros pontos de referência, fermenta novas atitudes. O Velho Sócrates, por exemplo, foi acusado de “corromper a juventude” por  trazer reflexões até então descabidas na sociedade ateniense do século V a.C.
               Enfim, como é triste se deparar com jovens que abraçaram ideais preconceituosos, muitas vezes advindos do berço, da educação familiar! São caminhos fechados para a possibilidade de uma vivência de alteridade, de saber que eu existo a partir do outro, de que é extremamente necessário um olhar diferenciado na compreensão do mundo e das contribuições do outro, do diferente. Preconceitos em outros tempos  promoveram caça às bruxas, escravidão, violência doméstica, atos terroristas etc. E ainda hoje é assim!

                Escrevi isto porque acabei de ouvir a seguinte frase na retórica de um jovem estudante do Ensino Médio: “Filho meu que der mostras de ser bicha vai apanhar na cara até virar homem”. É...passa ano... vem ano...  "todas as novidades são suspeitas e é melhor conservar as velharias”.  Juventude com concepções assim vai protagonizar o quê? 

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