Pescando panaguaiús (Arquivo JRS) |
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Há
mais de quatro décadas conheci o Antônio “Panaguaiú”. Eu já era crescidinho, um
adolescente curioso. Na verdade, eu conheci o Velho “Panaguaiú”. O nome
verdadeiro dele eu nunca soube, assim também como nunca descobri a razão desse
apelido. Afinal, eles sempre foram apenas roceiros, nunca tiveram habilidade na
pescaria. Essa tradição do nosso lugar em filho herdar apelido do pai é
interessante: o Dito “Cutia” tem os seus que trazem o título desse roedor (só
não sei se os netos seguem a tradição), a Maria “Rolinha” tem as suas filhas
também chamadas nesse nome que inspira mansidão, o Velho Casimiro “Mandioca”
tem o seu “Mandioquinha” que se tornou um pilantra etc.
Panaguaiú
é peixe cumprido que está sempre à flor da água, também chamado de
peixe-agulha, que se pesca em boia de flecha de capurubu. É assim: você faz uma
cruzeta com um palmo em cada ponta, põe um pequeníssimo anzol num curtíssimo
pedaço de linha fina em cada braço da cruzeta, capricha na isca e solta na água sem esquecer de prendê-la a
uma linha içante para puxá-la de onde estiver. Depois...
me convida para um café com farinha e peixe frito!
Então,
conforme eu comecei este, o Antônio “Panaguaiú” era roceiro, mas logo arrumou
emprego de carteira assinada na prefeitura, na gestão do Basílio Cavalheiro.
Deixou o terreiro do pai. Com a sua Anna esperando a primeira criança foi para
um desses sertões nosso. Era distante, mas o terreno grande era deles. Tinham
horta, criavam galinhas e patos... e crianças! Tiveram sete filhas. As
primeiras foram se casando e ficando por ali. Netas e netos foram se somando e
diminuindo o espaço. Recentemente o patriarca morreu. Anna agora reina como
matriarca.
Por
estes dias, aproveitando o feriado prolongado, fui visitar a minha estimada Anna.
Depois de um gostoso abraço, sentamos no portal da cozinha com uma caneca de
café e ficamos mais de hora proseando. As crianças se teciam: algumas eu já
conhecia, mas muitas eram novas. “Esta é a minha bisneta”. “Aquela dali,
brincando com uns tocos de brinquedos também é minha bisneta”. “A outra, a
loira, é filha da minha caçula”. “As quatro já enlameadas a esta hora são netas”.
“Lá na sala está a minha filha do meio com a sua filhinha de mês”. "É" - digo eu - “você
e o ‘Panaguaiú’ se especializaram em mulheres e transmitiram o jeito de
fazê-las”. A Anna dá uma gostosa risada. E acrescenta: “ainda bem que foi
assim, né? Você imagina a panaguaiuzada que teria em casa se fosse todos
homens?”.
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