Tia Aninha e seus santos (Arquivo JRS) |
Quando criança, morando na Praia
da Fortaleza, a atração para tudo era muito grande, exceto para ficar uma manhã
inteira sentado numa carteira escolar. Então, era comum eu ficar na classe, na
verdade a sala da casa da Tia Martinha, apenas até o intervalo do recreio. Assim que dava, eu rompia o mato do entorno, pulava rio e valas e sumia dali.
Brincar,
correr, jogar miringuito, descer o morro em totoa, brincar de roda de breque, fazer barquinhos, dar
pelotadas, pegar camarão no balaio, mariscar etc. eram coisas corriqueiras, de
cada dia, inclusive quando a chuva não estava grossa, sem trovão e corisco a
brilhar a cada instante. Outra coisa sagrada era acompanhar os mais velhos nos
roçados de mandioca, de banana, de cana,
de batata doce e outras iguarias tão necessárias à nossa alimentação.
No
morro da Fortaleza, desde a badeja até a mais alta grimpa, as roças eram a
garantia de sempre ter algo a mais do que caça e pesca. As plantações do Vovô Armiro - e de outros caiçaras do lugar - se espalhavam nessas áreas, mas os dois eitos mais distantes eram o Morro do Tatu e o Morro
da Anta, onde uma cobra picou o Peri, o cachorro vinagre da família. Eu já
contei noutra ocasião que o Tio Tião desceu correndo com ele e o tratou com ovo
cozido. Quer saber mais, leia a postagem (Ovo
cura, março de 2011). Ah! Outra lembrança boa desses roçados mais distantes
era, nessa época do ano, a colheita de cará-roxo! Delícia, né? Pois é! Agora, o
que pouca gente nova sabe é que, passando pelo Morro da Anta, existia um
Caminho de Servidão (trilha) que ligava as praias da Fortaleza e Lagoinha. Que morrão! Isto quer dizer que, naquele tempo, os caiçaras do local preferiam
este caminho em vez de circular pelo Caminho do Bonete.
Vovô
Armiro, também chamado de Zé Grande pela Vovó Eugênia para distinguir deste escrevinhador que era o Zezinho, dizia que muita gente seguia viagem a pé para Caraguatatuba e Santos por ali. Iam em busca de trabalho, de dinheiro nesses lugares. Quanta disposição!
Era por isso que, quando alguém se lastimava das condições do nosso lugar, havia
um dizer dos antigos: “Não seja infeliz. Siga o Caminho das Antas”.
Numa tarde, estando eu na casa da Tia Aninha, escutei: "Fiquei sabendo que você tem fugido das aulas, Zezinho. Não faça mais isso. Estude para não seguir o Caminho das Antas”.