terça-feira, 6 de agosto de 2013

ORATÓRIO NO HORIZONTE



Em 1990, o  folclorista Ney Martins me mostrou uma imagem antiga de uma Festa de São Pedro, ou melhor, de uma missa para homenageá-lo, onde o altar estava montado na saída da barra do Rio Grande (Barra dos Pescadores), sobre quatro canoas. Impressionante!
Noutra ocasião, defronte a capela N.S. das Dores, conversando com o velho Sebastião Rita, ouvi a narrativa dessa imagem (do altar sobre o mar) com muita emoção.  Havia na prosa uma religiosidade muito original, sincera:
“O artar parecia tá boiando! Nem um tiquinho de balanço se via no cálix bento! O padre Lino devia de tá lá segurado por argum anjo. Eu era novinho ainda! Em vorta se via um sarceiro de tainha. Que beleza!”.  Na sequência, o bondoso caiçara daquele lugar, morador da beira do Rio Acarau, detalhou o seguinte:
“Você precisava de vê quando o finado Tibúrcio Mesquita se tocô da Fortaleza pra cá! Era duas canoa: numa vinha a mulhé com as filho; na otra, remando detráis de um oratório, vinha o  próprio Tibúrcio. Aquilo despertava  atenção de longe. Era uma jangada vindo pelo mar! Quem não reparava naquilo chegando, chegando, chegando? Ninguém  podia imaginá arguém trazendo um oratório desde aquela distança, da Preia da Fortaleza!”. Naquele momento, vendo a minha comadre passando na linha dos jambuís, ordenou o velho Rita:
“Se não tivé acreditando nas minha palavra, pergunte pra Gardina ali”.
É lógico que eu acreditava em tudo! Isso demonstra o quanto os antigos caiçaras eram devotos e cultuavam em seus simples oratórios os mais diversos santos. Eu não me lembro de uma casa desse tempo que não tivesse um espaço reservado para tal fim, com imagens, vasos de flores e velas prontas para acender no serão de cada dia.

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