É preciso enxergar as belezas de nossos caminhos. (Arquivo JRS) |
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Ontem fui interrompido durante a leitura. Era o meu filho Estevan: “Pai; telefone. O nome dele é João Silvestre”. Na hora, com este nome especial que lembra a natureza, os nossos frutos silvestres, tive na lembrança o meu amigo João, morador, em 1986, na cidade de Santo André, no bairro Parque São Jorge, bem na divisa com o município de Mauá. Na sua casa eu era acolhido por seus humildes pais e irmãos. (Um simples cafezinho era um aconchego que me fazia muito bem nas saudades que sentia do meu pessoal ubatubano). Por muitos minutos entabulamos uma prosa cheia de saudade. Agora, morando em São Bernardo do Campo, ele também é casado com a Alessandra e pai do Pedro Gabriel.
Após a nossa conversa, fui explicar para o meu filho o motivo de tanta euforia. É lógico que comecei com uma brincadeira! “Estevan: sabe quem expulsou São Bernardo da Borda do Campo? Não? Foi o Juíz de Fora!”. Foi nesse estilo caçoante que eu amealhei um grupo de amigos muito bom em Santo André (João, Cássia, Marcos, Magali, Zélia, Iraci, Solene, Hélio, Rosana, Yara...). Da minha casa até o referido bairro, eu caminhava alguns quilômetros desfrutando das ocupações urbanas, mas também em caminhos ainda pelo mato. Era um prazer e uma compensação pela zona industrializada que me circundava.
Contar, rever, escutar, rememorar gente e fatos que nos marcaram faz construir coisas novas com os retalhos. É, sobretudo no caso da cultura caiçara, a oportunidade de reforçar a nossa memória, de destacar as pessoas que deram a sua contribuição para o estágio que hoje vivemos. É o caso da saudosa Maria Balio, a nossa vizinha na Praia do Sapê nos idos de 1960. A seguir, um depoimento (Os caiçaras contam; SP- 2000) dessa incansável mulher que nos deixou há menos de dez anos:
“Em 1952 eu consegui a primeira escola do Sertão da Quina. Não tinha onde lecionar e então a prefeitura comprou uma casa de pau-a-pique, com portas e janelas caindo. E ali eu dei aulas para quinze alunos. Nessa época, não recebia da prefeitura nem de ninguém. Eu pegava os papéis de embrulhar pão, recortava no tamanho de folhas de caderno e costurava à máquina. Estes eram os cadernos que eu distribuía para meus alunos. Anos depois, em 1959, fui lecionar na Praia [Grande] do Bonete, onde também não tinha escola, e todos ficaram muito felizes com a novidade. Comecei a dar aulas num galpão, na beira da praia. quando chovia, os cadernos voavam com o vento e tínhamos de suspender as aulas”.
Hoje, ao acompanhar, na média, 750 alunos por ano, em duas aulas semanais, presencio uns absurdos, típicos de quem passou muito longe “do pão que o Diabo amassou”. São cadernos que viram bolas de papéis para fazerem “guerrinhas”, são lápis, réguas e borrachas despedaçados pelo simples prazer de sujar o meio ambiente. Quão longe parece estar a felicidade de conhecer cada vez mais e melhor para partir cada ideia em pedaços e refazer ideais que reconstruirão o nosso viver nesta ilha chamada Terra!
Eu tenho a certeza que é com os amigos - próximos e distantes! - que a gente se fortalece nessa utopia.
Valeu, João! Eu espero nunca deixar de enxergar as belezas de nossos caminhos! De que valeria uma utopia sem os amigos?
Em tempo: Na minha infância, a escola da Praia Grande do Bonete (que ainda está bem preservada), ficava na casa do finado Adelino Rosendo, bem no canto direito, na boca-da-barra. Atualmente, o proprietário é o doutor Roberto. Seria interessante alguém recolher depoimentos de alguns dos ex-alunos da Maria Balio, tanto no Sertão da Quina quanto no Bonete. Isto é um aspecto importante da nossa alfabetização: preservar a memória para poder propor algo em vez de copiar. É o nosso alicerce cultural!
Valeu, Zé! Foi um imenso prazer voltar a falar com um amigo tão especial que fez parte de um momento tão feliz da minha vida, ao lado de amigos igualmente especiais citados por você logo acima, e tantos outros. Saudade de todos.
ResponderExcluirGostei do blog. É um trabalho de formiguinha, com um potencial enorme. Penso que este trabalho tem muito a contribuir com a memória caiçara e principalmente em despertar a boa vontade das pessoas em interagir em prol do bem comum.
Pra mim, utopia é um horizonte muito bonito que DEUS mostra pra gente e desperta o desejo de estar lá. Só que pra chegar é preciso caminhar muito e é justamente aí , nessa jornada, que tudo vai ganhando vida, vamos conhecendo pessoas, criando novos laços de amizade e solidificando antigos. “Utopia e amigos”, realmente, tudo a ver.
“Vós sois o sal da Terra”. Lembra disso, Zé?
Um grande abraço. João.