Na casa da vó Eugênia, assim como em todos os lares daquele tempo, existia um oratório. Era sobre a mesa grande da sala, onde tinha de tudo: lampião, imagens de santos, fotografias, balaio de costura, caixas de remédios etc. Conforme se aproximava a hora da ave Maria (18 h), o vovô Armiro acendia uma vela e puxava uma oração sempre acompanhado de mais algumas pessoas.
Ao anoitecer, o lampião era aceso por quase duas horas. Era o ritual da roda de conversa de cada noite. Depois disso vinha a ordem para descansar o corpo porque o dia seguinte já nos aguardava com suas tarefas. Era na grande sala que, por ocasião de visitas, as esteiras de taboa eram espalhadas após a prosa de cada noite, se transformando em espaço de descanso.
Sempre tinha agregados, sobretudo caipiras da Vargem Grande e das Palmeiras, que vinham para trabalhos na roça com o vovô. Foi numa dessas ocasiões que, ao se levantar na madrugada, o tio João notou José Sibi,um desses trabalhadores, ajoelhado diante de um quadro emoldurado. Ele fazia as suas preces considerando a sacralidade do oratório da vovó. Sabe qual santidade estava defronte o piedoso homem? Tratava-se do quadro, da fotografia de casamento dos meus pais, diante da Igreja Matriz de Ubatuba. Ou seja, desse jeito a imagem estava santificada. Deve ter feito milagres. Vai saber!
Nenhum comentário:
Postar um comentário