sábado, 17 de dezembro de 2011

Lobisomem

Vó Eugênia era moradora da Praia da Fortaleza. Mulher simples, atenciosa, não era de inventar nem de mentir.
Um dia perguntei a ela se já tinha visto Lobisomem ou se conhecia alguém que já tinha visto, e ela respondeu que numa madrugada ela mesma viu. Já estava deitava há tempo quando escutou latidos fortes vindo do meio do bananal. Levantou-se e olhou pela fresta da porta para ver o que atormentava os cães e vislumbrou um cachorro preto e peludo, enorme, diferente de todos os que havia por ali, sendo cercado pelos cães da vizinhança, que estavam furiosos. Ele parecia estar muito cansado, ela até podia escutá-lo arfando alto. Minha avó se arrepiou, paralisada de medo.
Depois de um instante parado, o animal continuou a correria fugindo dos cachorros que o perseguiam. Aquela era uma noite de lua cheia.
Outras pessoas já haviam relatado as aparições desse cachorro, que ninguém conhecia, sempre perseguido por outros cães, que queriam atacá-lo. João Barreto disse que pôde ver os olhos do cão e eram olhos vermelhos. Ele conta que, na praia da Fortaleza, aconteceu um desencantamento: o Joaquim Silvino se encontrou com um Lobisomem quando pegava sua canoa para pescar de madrugada. Quando o bicho chegou ameaçador para o seu lado, ele lhe bateu forte com o remo no ombro, perto do pescoço, tirando sangue. Assim foi quebrado o encantamento e o cão tornado homem de novo, não voltou a se transformar.
Dizem que o Lobisomem vinha de outras praias, passava por ali e depois seguia para outras. Acredita-se  que a sina do lobisomem era se transformar nas noites de lua cheia  e correr sete praias.
Quem poderia se transformar em Lobisomem? Quando, numa família, nasciam sete filhos homens, pensava-se que o sétimo teria a desgraça de se transformar em Lobisomem. Então, para evitar o mal, o jeito era o filho mais velho batizar o sétimo, cortando a maldição. Isso aconteceu na família da vó Martinha e vô Estevan: o sétimo filho deles, Manoel, foi batizado pelo primogênito, Antônio. Assim, todos ficaram tranquilos: um lobisomem a menos em Ubatuba.


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