domingo, 10 de abril de 2011

Mané Hilário (Parte 2)



Folia do Divino:
         No tempo da Folia todo mundo se preparava. O terreiro tinha que alimpá. Arrumamo, limpamo o terreiro, porque lá não era como tá aqui. Era terreiro grande. Limpamo. Tinha laranjá em volta da casa. Tinha barrido as folha, tirado fora tudo. Abria um, fazia lenha para tê a semana toda pra acompanhá a Folia do Divino. Ter lenha em casa pra não tá tomando o tempo, né?
          Ia na casinha dele, botava a enxada. “Ô fulano, pra quê essa lenha?” “Ah, a cantoria do Divino vem aí, eu não vou me pôr com esse negócio de lenha. Quero aproveitá agora, fazê lenha agora pra então ter lenha em casa”. Todo mundo deixava a casa dele, acompanhava o Divino até a hora do almoço, vinha em casa, almoçava, tornava a sair. Quando chegava, terminava a cantoria do Divino na rua porque vinha pra cidade.
          Ali na cabeça da ponte era uma festança, na ponte de lá. Antigamente, ali cantavam, despediam do povo da roça tudo. Aquele povo todo a beijá a imagem da bandera. Eu então, como era mais inteligente um bocadinho, perguntava: “Vovó, porque tá beijando tanto e tá chorando?” “Ah, meu filho! A festa do Divino pra nóis é na roça, na cidade nóis não podemo vim”.  Vê hoje, quando vão batê na casa de alguém, a casa que tão batendo aí na rua tão c’oa porta fechada, não abrem a porta, não abrem nada. Na roça, lá pro lado da Picinguaba, aquele lado lá, tão tudo na roça, pescando, não se incomodavam com mais nada. Naquele tempo, na Picinguaba, nóis chegava na Ilha da Pesca pra terra, fechava a fumaça de foguete. A bandera do Divino ia na voga, na canoa, pra lá pra pegá a cantoria. O pessoá tava todo na preia esperado a bandeira. Era foguete pro lado da preia e da canoa de voga que ia c’oa bandera.

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