sexta-feira, 24 de outubro de 2025

ESCURIDÃO DE RESPEITO

Arte em xilogravura - Pita Paiva 


     Bem cedo me pego pensando na mítica Ilha dos Sumidos, citada na obra Canoa Emborcada, do estimado Santiago "Santi" Bernardes. Eu a tomei como espaço de reflexão de temas que não deveríamos descuidar, de lembranças boas e de gente melhor que não podemos apagar da memória. Ela, na minha concepção, se tornou um desafio e, ao mesmo tempo, um lugar para redescobrir e/ou reforçar a mística do povo que se fez entre roçados, pescarias e festejos; um espaço para nutrir nossos espíritos que teimam em evitar que o nosso território se torne um inferno aos seus moradores e visitantes. Por isso, sempre que eu sentir necessidade e inspiração, recorrerei à Ilha dos Esquecidos para pensarmos juntos e agirmos em conjunto. Agora eu trago a reflexão do muito estimado Jorge Ivam em torno da educação pública:

    A escola pública era apresentada como um meio de os jovens da classe trabalhadora ascenderem socialmente. Poucos conseguiam isso, mas havia essa possibilidade, havia um discurso que o estimulava, agora os currículos oficiais nem disfarçam mais o objetivo de manter as injustiças sociais. Para isso, com o pretexto de que os jovens pobres precisam se empregar mais cedo, a escola alija os alunos dos conhecimentos básicos e empurra-os para o mercado de trabalho, no qual, por falta de formação, terão de se conformar em exercer funções desprestigiadas e, portanto, mal-remuneradas. O resultado é que a desigualdade social só aumenta. Outra consequência dessa educação é o indivíduo que a recebeu não ter a mínima noção de que é vítima de um sistema que o faz acreditar que vive em situação precária porque não tem mérito, ou não é tão inteligente quanto aqueles da classe dominante.

    O resultado, as consequências de tal modelo tende a agravar com a tendência conservadora de implantação de escolas cívico-militares, onde a ideologia de defesa dos privilégios de uma mínima parcela da população (sob a denominação de "patriotismo") é marca histórica das instituições  militares (que desejam manter-se na mamata). Uma elite terá sempre a necessidade de gente disposta a dar a própria vida, a tal disposição de "morrer pela Pátria e viver sem razão" cantada pelo poeta. Somando todos esses aspectos, das tendências curriculares ao neofascismo da extrema-direita, essa onda que ameaça inundar as praias com muitas imundícies, prevejo uma escuridão de respeito caso não tomemos posição contrária, se consolidando como força popular.


2 comentários:

  1. É isso, Zé! Pior que muita gente acaba acreditando que a escola cívico-militar é de boa qualidade por causa da rigidez na disciplina.

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  2. Eu ainda duvido que haja coerência entre rigidez na disciplina e educação de verdade. Hipocrisia é a marca predominante dos militares.

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