Evolução em Moçambique (Arquivo JRS) |
Viva a resistência! (Arquivo JRS) |
Dias
atrás, a partir de um convite especial, eu e minha esposa fomos até a cidade de
Paraibuna para assistir uma Dança de Moçambique.
Moçambique,
a dança, é um bailado popular. Com pessoas numa indumentária própria, simples,
com guizos nas pernas ou nos tornozelos. Ela se desenvolve numa coreografia bem
movimentada, em filas ou arabescos, agitando, entrechocando os bastões, em
lutas simuladas ou seguindo o desenho convencional, estrelas ou escadas, provas
de equilíbrio, precisão e segurança, ao som, geralmente, de tambor, violão,
rabeca e pandeiro. Vem do tempo dos escravos. Portanto, suas raízes estão na
África. Por ser uma cultura popular, uma forma de resistência, foi
nacionalizado, se adaptou à religião católica, ou seja, compõe a raiz da
religiosidade popular brasileira. Então, pela origem negra, naturalmente honram São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, com letras da devoção popular. Lembremos
que só assim os ritos dos negros, as
tradições africanas eram tolerados. Por isso que muitas vezes o bailado se
apresentava como cumprimento de promessa. A vovó Martinha dizia: “Os pretos da Caçandoca dançavam o maçambique
sempre”. Além da vovó, ouvi de muitos outros velhos caiçaras a denominação
de maçambique. O saudoso tio Aristides, quando jovem, participava do grupo de moçambique
do bairro da Estufa: “Eu dançava. Também
dançavam o Tobias, o Ditão... Acho que até o Antônio fez parte daquele grupo.
Tempo bom!”. Até 1980, a Maria
Charlot animava um grupo de dança semelhante no bairro do Taquaral. No centro
da cidade, no coração de Ubatuba, o mestre moçambiqueiro era o Modesto. Não é
preciso dizer que todos eram negros, descendentes de escravos que um dia foram
arrancados da Mãe África, tal como a minha tataravó que viveu essa condição na
praia do Lázaro.
Ao
assistir uma evolução dessa manifestação popular, você consegue ver além
daquilo que se mostra, voltar no tempo para enxergar os negros se exercitando,
ensaiando defesas e ataques no terreiro da senzala ou pelas capoeiras. Eram estratégias
que alimentavam a resistência frente às agruras do Brasil que manteve por quase
350 anos a escravidão negra. Por isso que é triste escutar alguém dizer frases
do tipo: “Quem disse que os descendentes dos escravos merecem reparação?”, “Eu
sou contra a titulação de terras quilombolas” etc.
Quer ver uma mostra do grupo de
Paraibuna? Então lá vai: https://www.youtube.com/watch?v=MkTditXI3Hw
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