Canoas do saudoso tio Aristides (Arquivo JRS) |
Hoje
é feriado na cidade de Ubatuba, no litoral norte paulista. É Dia da Exaltação da Santa Cruz; comemora-se
a “Paz de Yperoig”. Oficialmente é o primeiro tratado de paz em terras
americanas. Assim é a vida... Histórias e histórias... Muitas delas construídas
a partir de mentiras e promessas.
Para
quem ainda não sabe: neste município, por ocasião do “achamento” do Brasil,
quem vivia por aqui eram indígenas, do povo Tupinambá. Aqui era a aldeia de
Yperoig. Inicialmente os índios se encantaram com os invasores, os perós (portugueses). Eram homens
diferentes. “Eles tinham vindo da casa do
Sol, da direção de onde esta divindade aparecia a cada manhã”. Mas logo
viram que a intenção dos perós era escravizá-los. Quem quer viver sob o
julgo, perder a liberdade? Nem eu, bacurau! Então começa a luta, a resistência
dos nativos. Nasce a denominada Confederação dos Tamoios, quando muitos dos
diferentes povos existentes neste chão se unem contra um inimigo comum. “O mar ficava coalhado de canoas. Mais guerreiros
seguiam por terra para atacar os portugueses da Baixada Santista”. Por
outro lado, tendo mais recursos e contando com apoio dos padres jesuítas, a
elite lusitana vai se armar e cooptar também índios para não perder o
território que prometia muito, começando pela extração do pau-brasil.
O
Velho Catarino dizia:
“Para dominar de verdade, eles enviaram os padres Anchieta e Nóbrega.
Foram os mediadores do conflito quando os portugueses sentiram que podiam
perder, pois os confederados estavam dispostos a tudo. E, de acordo com os
registros que predominou na História, o padre Anchieta neste território ficou
refém enquanto uma comissão foi até a Baixada Santista negociar as condições de
suspender a Guerra dos Tamoios. O padre até gostou da ideia. Afinal, era só ele entre a
indialhada pelada não é mesmo? Dizem que, para passar o tempo longe das
tentações medonhas, mas maravilhosas, o sacerdote escrevia poemas na areia da
praia e decorava-os conforme os dias passavam e as ondas apagavam. Que a Virgem me acuda era a sua prece. Por fim veio
a solução: em 1563, depois de oito anos de conflito, no dia 14 de setembro, foi
acordada a paz”.
Só bem
mais tarde soubemos que os portugueses não cumpriram a sua parte, ou seja, se
aproveitaram da desmobilização dos inimigos e deram um jeito de exterminá-los. A
estratégia dos exploradores portugueses se repete até hoje por aqueles que
querem viver às custas dos outros, empobrecendo-os. A jornalista Priscila Siqueira escreveu que, “destroçadas,
o que restou dessas nações se repete em seus descendentes, os caiçaras”.
Assim, volto a finalizar deste modo:
Ou você comemora a Exaltação da
Santa Cruz porque os Tamoios foram dizimados ou comemora a data como Traição
de Yperoig porque a paz tão exaltada nunca houve.
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