Ponto comercial (Arquivo JRS) |
De
repente, chegando como onda em cima de onda, lembranças, saudades e palavras
viram um texto. Faz-me lembrar daquela claridade de outros tempos que, depois
da cantoria dos galos nas madrugadas, ia penetrando pelos vãos do telhado,
juntamente com a algazarra dos passarinhos, deixando da noite passada os
temores das fantásticas histórias de assombração e dos personagens encantados
que nossos pais nos contavam.
Nesse ambiente fui alfabetizado. Minha primeira
professora brincava com as palavras: “J-A-C-A é jaca. Ponham um acento agudo no
derradeiro A que vai virar jacá, que é um cesto que vocês bem conhecem, para cargas.
Tão comum é ver os caipiras descendo ou subindo pelos caminhos de Serra Acima
com suas pesadas cargas! Agora vamos desenhar oito jacas. Desenharam? A primeira
será jaca A, a segunda será jaca B, a terceira será jaca C, a quarta será jaca
D, a quinta será jaca E, a sexta será jaca F, a oitava será....” E todos nós
gritávamos: “Jaca H, professora!”. E nesse momento ela anunciava o horário do
nosso recreio. Era hora de ir até a bica beber água, brincar e fazer nossas
necessidades. Nessa época,
quando as cabeçudas (tainhas) chegavam, sempre tinha algum dos alunos trazendo
ova seca para a professora. Que presente bem caiçara!!!
E
quando a professora explicou a importância da cedilha, usando a embalagem de
açúcar?! Antes dessa lição eu lia acúcar porque não sabia pra que servia aquela
“perninha”, aquele “rabinho” debaixo da letra C. E como estranhei aprender o CA
- CO – CU a partir da lição do cachorro!
Depois vi que também se aplicava à lata de leite Mococa, que ficava sobre a
mesa da tia Carmelina! Bem mais tarde, o Zé da Nhanhã me disse que foi na lição
do cachorro que tinha abandonado a escola, depois da bronca da professora. Foi desse jeito: ele foi chamado à lousa para apontar e repetir as sílabas dessa lição. E
foi. “Este é o CA, professora. Este é o CO, professora. Este é o CU,
professora. É o CU do cachorro!”. Segundo ele, a sala se transformou numa estrondosa risada. "Ninguém parava de rir, Zezinho!". Por isso, morreu analfabeto o nosso querido Zé da Nhanhã. O dó!
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