O novo hotel, onde hoje é o Bardolino (Arquivo Ubatuba Antiga) |
Onde hoje é o "Calçadão", avistando o Hotel Fellipe (Arquivo Ubatuba Antiga) |
Sempre é pouco
falar mais um pouco de Idalina Graça, a primeira caiçara a escrever a respeito
de Ubatuba. Agora, recorrendo ao seu teu texto em TERRA TAMOIA, vamos entender
a mudança de endereço de seu hotel. Lembramos que, em meados do século XX,
Ubatuba, além do Hotel Ubatuba, tinha o Hotel Fellipe como principal
concorrente, na Rua Dona Maria Alves, defronte ao supermercado Paulista atual.
Iríamos
mudar para a nossa nova casa, que seria um hotel em miniatura comparado ao
grande sobradão que íamos deixar. A nova residência era em frente à Praça de
Nossa Senhora de Iperoig. O juiz de nossa cidade nos mandara desocupar o velho
casarão, pois, na sua opinião, o prédio estava prestes a ruir. Foi com pesar
que me mudei, embora a nova casa fosse prova de meu trabalho conjugado aos
esforços do meu marido, que possuía de sobra o senso de economia, qualidade
muito apreciada por mim, que não sabia, nem sei cultivá-la.
Trabalhamos
o dia todo: Albino, eu, tia Rita e mais um rapaz que viera para nos ajudar. Não
tive tempo de refletir o que estava se passando em mim. Mas, quando meu marido,
feliz da vida, retirou a chave da porta do sobradão, não suportei mais e,
abraçando-o, desabafei toda a mágoa que sentia, em fortes soluços.
-
Oh! Idalina! Por que você chora? Nós vamos para a nossa casa, que construímos
ajudados por Deus, querida, e lá não há lugar para tristezas. Só se é porque
Ubatuba está localizada unicamente no hotel, ou você escondeu algum tesouro no
jardim...
Enquanto
ele falava, tia Rita sorria, e eu mais soluçava. Por fim parei e olhei, triste,
para ambos, Albino e a fiel companheira de onze anos de trabalho e sacrifícios.
E ali estavam os dois, sorridentes, a olhar para mim. Como fazê-los compreender
a dor que eu sentia se nem eu mesma sabia o porquê dela? Enfim, um último olhar
para a palmeira secular, inclinada pelas lutas constantes contra o vento; à farmácia
pequenina e branca do Filhinho, mas acolhedora na grandiosidade de sua missão;
um adeus à velha e maravilhosa Matriz, e, em desabalada corrida, fugindo ao
abraço amigo do meu marido, procurei meu novo lar. Dois dias depois de
instalados, vim a conhecer o casal Alvarenga, meu amigo até a data de hoje,
que, alguns anos depois, se tornaria o proprietário daquela casa, onde instalei
meu novo hotel. [Hoje é o Bardolino, um restaurante].
No
mesmo dia de nossa mudança, foi com indescritível prazer, como a compensar-me
da minha tristeza, que recebi, pelo correio da tarde, a quinta carta de
Monteiro Lobato.
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