Idalina Graça (Arquivo Ubatuba Antiga) |
Pelo que eu sei, ao menos duas escola
recebem o nome da Idalina Graça: uma no centro da cidade e outra no bairro do Ipiranguinha. Tenho certeza que pouca gente, inclusive
professores, sabe muito pouco dessa mulher. Então, resolvi transcrever este
belo texto, em duas partes, do Seo Filhinho, de 1983.
“...Sinto-me
obrigado a atender à curiosidade
daqueles que, agora, por aqui passando, querem saber quem foi a Solitária de
Iperoig, a maviosa escritora do TERRA TAMOIA.
A
Solitária de Iperoig – pseudônimo de Idalina do Amaral Graça – foi,
indiscutivelmente, uma das personagens mais notáveis e marcantes na vida de
Ubatuba.
Nascida
em Ilhabela – quando o Litoral Norte se debatia na mais angustiosa crise de
decadência - , órfã, ainda na infância,
enfrentando no seio da família sérios problemas de sobrevivência, sem meios de
frequentar a escola primária, na qual não conseguiu ao menos dois anos de
comparecimento, a ela só cabia seguir o exemplo dos jovens caiçaras daquele
tempo: emigrar. Ir para Santos onde facilmente encontraria mercado de trabalho
e, consequentemente, sorriam promessas de dias mais tranquilos, mais felizes.
Foi
assim que Idalina, em tenra idade, totalmente só, ignorante, desprotegida,
abandonada ao léu, soube enfrentar a cidade grande, com todas as vicissitudes,
todos os seus vícios e misérias e, com galhardia, de ânimo forte e cabeça
erguida, pôs-se a lutar na esperança de atingir destino melhor.
Enfrentou
o pior. Foi empregada doméstica, Vagou de casa em casa suportando, sem meios de
reação, admoestações, reprimendas e interminável série de injustiças que só
acontecem aos fracos e desprotegidos.
Mas,
no decurso dessa penosa caminhada, sempre que podia suavizava sua desdita na
leitura de todo material impresso que lhe chegava às mãos, desde retalhos de
jornais até compêndios que obtinha por empréstimo de raras pessoas compreensivas,
das quais conseguia se aproximar.
Foi
esta a sua escola, foi assim que conseguiu acumular algum conhecimento, para
que, no futuro, pudesse extravasar em rústicas palavras toda a sensibilidade
que lhe transbordava da alma!
Idalina
trabalhava, sofria e sonhava!
Certo
dia o destino apresentou-lhe aquele que seria o fiel companheiro de seus dias
pela vida afora, Albino Alves da Graça, igualmente caiçara, natural de Ubatuba,
que também lutava por melhores dias na mesma cidade praiana [Santos].
Casados,
desambientados na trepidação da cidade grande e saudosa do bucolismo das
regiões em que nasceram, vieram para Ubatuba, onde, depois de pouco tempo como
comerciantes na Enseada, estabeleceram-se com pequeno e modesto hotel na
cidade, no Largo da Matriz, no qual Idalina se multiplicava no desempenho de
todas as tarefas, desde faxineira, arrumadeira, lavadeira, até cozinheira".
É da Idalina um dos mais belos registros da Praia da Enseada antes do turismo chegar e acabar com tudo. Tem um trechinho aqui: http://canoadepau.blogspot.com.br/2015/08/ilha-anchieta-110-anos-atras.html
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