O primeiro ponto comercial de Idalina e Albino, na esquina do "Teatro" (Arquivo Ubatuba Antiga) |
Por eu sempre ter morado em bairros distantes do centro da cidade, não sou a pessoa indicada para falar de personalidades significativas na vida cultural da cidade. Por isso me aproveito dos escritos dos outros nesse detalhe. Assim, este é o prosseguimento do relato do Seo Filhinho. Algumas vezes tive a felicidade de escutar suas histórias na Praça da Matriz! Na minha adolescência também pude apreciar a amizade que unia esse farmacêutico à Idalina, quando, sentados num banco da mesma praça, onde mantinham seus pontos comerciais, conversavam tranquilamente.
Quando
o hotel esvaziava – porque raros visitantes procuravam Ubatuba naquele tempo –
Idalina lia e escrevia. E escrevendo às ocultas, passava para o papel o rico manancial
de sua rica imaginação.
E
quantas vezes, atravessando a praça ia à minha farmácia, que ficava em frente
ao hotel, para que eu datilografasse admiráveis páginas literárias, rústicas na
forma, mas de conteúdo transbordante de lirismo e poesia.
-
Estou guardando meus escritos – ela me
dizia – porque um dia hei de publicá-los.
E
assim aconteceu. Willy Aureli, o sertanista desbravador dos sertões de Goiás e
Mato Grosso, o brilhante jornalista paulistano, seu hóspede frequente e seu
amigo íntimo e fraterno, rebuscando guloseimas nas prateleiras da cozinha,
encontrou seus originais atulhando o repositório de uma lata vazia. Foi,
portanto, Willy Aureli quem, burilando-as, levou suas produções às páginas dos
jornais da Capital, tornando conhecida aquela que passou a ser denominada “Escritora Iletrada” – a Solitária de Iperoig.
E
nessa condição acercou-se de amigos e admiradores, literatos como ela, entre os
quais, além de Willy, destacavam-se Monteiro Lobato, Virgínia Lefevre, Paulo
Florençano, Evaldo Dantas, Wladimir Piza, Guisard Filho, Audálio Dantas, Urbano
Pereira, Luis Ernesto Kawall, Cesídio Ambrogi, Gentil de Camargo e tantos
outros, com os quais manteve estreito e cordial relacionamento.
Mas
a divulgação dos seus escritos e a honrosa plêiade de amigos conquistados não
lhe deram plena satisfação. É que a esse tempo seu marido [Albino] apresentava
grave infecção num dedo do pé, enfermidade cuja intervenção cirúrgica era
inevitável. (...) Passaram-se meses e
Albino faleceu.
Enviuvando
sem descendentes, sentindo-se só, desprendida como sempre, doou seus poucos
haveres – sua casa, seus utensílios – aos menos favorecidos, com a preocupação
de fazer o bem aos pobres, fracos, desamparados e enfermos, enfim, a todos
quantos necessitassem de uma mão amiga ou de uma palavra de consolação.
Surpreendentemente,
com toda essa gama de encargos e preocupações, de trabalhos e sofrimentos,
Idalina ainda encontrava momentos para pensar e escrever!
Com
a ajuda de amigos dedicados, entre eles o Mecenas brasileiro, Francisco
Matarazzo Sobrinho, editou seu primeiro livro – TERRA TAMOIA -, precisa obra
literária, infelizmente esgotada, esperando que amigos remanescentes
promovam uma nova edição.
Posteriormente
editou BOM DIA UBATUBA, e dava andamento a uma terceira obra quando a morte
traiçoeira veio arrebatá-la do nosso convívio.
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