quarta-feira, 21 de maio de 2014

ENCANTADO

Quebrando o Encanto - Arte: Estevan (Arquivo JRS)

        Estando em prosa com o Oliveira, no jundu da praia do Perequê-mirim, eu quis saber a respeito dos seus antigos, que viviam na Ilha do Tamanduá, pertencente ao município vizinho de Caraguatatuba, defronte à praia da Tabatinga. Alguma coisa eu já sabia graças ao finado Aristeu Quintino, seu primo da praia da Ponta Aguda. 
“Ah! A Ilha do Tamanduá! Era do meu avô, do velho Maneco Mesquita! Ele era dono de tudo aquilo! Lugar maravilhoso!  Ele morava na praia de Fora, onde havia um Encantado. Explico melhor: 
No canto direito da praia de Fora, no jundu, debaixo de uma figueira, sempre se via um Encanto. Era a figura de luz, na forma de um homem que se manifestava, causando assombro aos moradores. Era assim e assim ficava até que um dia apareceu um grupo de pessoas de fora para saber mais sobre o causo. Todo mundo naquele tempo falava disso, do Encantado da Praia de Fora!
O meu avô explicou a história. O grupo o convidou para ir à noite no local. Eles queriam comprovar o que se falava. E assim o fizeram: depois que escureceu se aproximaram da velha e frondosa figueira, que ficava atrás dos ranchos. E a tal figura apareceu!
Sentindo-se animado pelo interesse daquelas pessoas de fora, o meu avô perguntou ao Encanto: ‘Por que você está sempre nesse lugar?’ Aquilo que assustava o povo simples, os caiçaras-ilhéus, respondeu: ‘É por causa de algumas coisas que estão enterradas na raiz dessa árvore. Quando alguém retirar tudo dali, a minha missão acaba neste mundo’. Todos se admiraram daquela mensagem. O velho Maneco Mesquita voltou para casa com aquelas pessoas. No outro dia elas agradeceram e se despediram.
Depois de um certo tempo, numa bela manhã, os pescadores notaram a cepa da velha figueira toda esburacada. Foi quando o Ramiro Barrasseca, primo do vovô disse que, na madrugada,  tendo saído para fazer as necessidades no mato, viu quando duas canoas vieram da Tabatinga. Eram cinco pessoas. Trouxeram ferramentas e candeeiros. Ele viu tudo de longe, mas deu para reconhecer duas ou três pessoas daquele grupo que passara por lá há algumas semanas atrás. Trabalharam por algum tempo, até encontrar uma caixa. Não deu para ver o que tinha dentro, mas deu pra ver que era coisa que brilhava devido a claridade dos candeeiros.
Após ouvir o que  primo relatou, o meu avô foi buscar um enxadão em casa. Continuou esburacando em volta da árvore. Encontrou uma grande peça dourada. É o que fiquei sabendo. Dizem que, mesmo tendo vendido para um desonesto senhor de Caraguatatuba, ainda conseguiu um bom dinheiro e comprou terras na costa, desde a praia da Figueira até a praia Mansa. Também tinha uns bons alqueires de terra boa na praia da Lagoa, na subida para a praia do Simão, que tem também o nome de praia do Frade. Enfim, só sei dizer que o velho ficou rico com aquilo que encontrou. Tudo graças ao Encantado. Depois disso ninguém mais viu o Encanto naquele lugar.”

Em tempo: em "A luz do Oliveira", contada neste blog, o nosso personagem já viveu uma história parecida.

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