Oliveira, aos 91 anos, no jundu. (Arquivo JRS). |
Olhando bem naqueles olhos que espelham um céu limpo, sem nuvem alguma, perguntei:
- Bom dia, Oliveira! Tá me reconhecendo?
Ele, firmando bem a visão por causa da claridade da metade do dia, respondeu:
- Você é filho da Laurentina. É claro que sei quem é!
Assim começamos uma prosa no jundu do Perequê-mirim, juntamente com o Luiz Carlos e outro rapaz, neto do finado Hermínio. O Oliveira, agora com 91 anos, me conhece desde quando eu vivia os primeiros anos na praia da Fortaleza. Era um dos companheiros do vovô Armiro nas puxadas de rede na praia. “Bons tempos aqueles, né menino?”.
“Neste jundu, quantas vezes eu, o seu avô e outros mais puxamos a canoa, trazendo farinha de mandioca para negociar com o Pedro Cabral! E daqui a gente já ía para a cidade, a pé”.
As recordações do Oliveira vem do tempo em que vivia de favores dos outros: “Os meus pais se separaram...eu vivi pelas casas de outras pessoas. Até na Caçandoca, entre os negros, eu passei um tempo. Também vivi com um tio na praia da Ponta Aguda. Depois de muito maltratado, por volta dos dez anos, juntei as minhas poucas roupas e segui para Caraguatatuba, para conseguir um emprego na Fazenda dos Ingleses. Encontrei quem teve compaixão de mim e me acolheu. Consegui emprego. Até mandava um dinheirinho para a minha mãe”.
A simplicidade do relato do Oliveira é comovente: “ A gente era pobre, se virava com as coisas que tinha em volta de nós. Para combater os vermes, por exemplo, a mamãe assava banana, depois abria e enchia de sementes de canema amassadas. A gente comia e logo sentia os efeitos. Tudo quanto era bicho saía. A gente sentia as forças voltando após um tratamento desse. Tudo estava na natureza. Por isso eu venho a cada dia na beira do mar para apreciar essa beleza que nós temos”.
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