Mexericas no meu quintal (Arquivo JRS) |
Ao chegar em casa num desses dias, após ter feito uma manutenção no apiário, o meu filho foi logo dizendo:
- Pai, tem um recado para você. É do Zezinho, o seu primo. Ele pediu para ligar ainda hoje. O número está anotado na agenda, perto do telefone.
O Zezinho, filho da tia Maria e do tio Bernardino Barreto, da Praia Brava, perto da Fortaleza, agora é quem cuida da plantação de pupunha deixada pelos pais. Logo dei um jeito de saber do que se tratava. “Ah! É tarefa fácil de remover uma colmeia que se formou no meio de sua plantação!”
No dia marcado, no fim da tarde, eu e mais dois companheiros nos deslocamos para o bairro do Corcovado, onde está o terreno com alta declividade, mas totalmente cultivado com essa palmeira que, precocemente, dá um robusto palmito. Antes de subirmos o morro, tendo tempo para uma prosa, fomos acolhidos na sala com uma refrescante água. E entramos numa gostosa prosa.
O Zezinho fez um resumo do empreendimento dos pais, da ousadia poucos anos antes de morrerem. Narrou a disposição em desmatar morro acima para tentar um cultivo totalmente alheio dos caiçaras, quando a pupunha foi apresentada como uma alternativa econômica interessante. Contou da extração, das benfeitorias realizadas tendo em vista a produção. Disse que a morte bem dizer pegou o tio Bernardino trabalhando enquanto preparava palmitos em conserva. “Ali ficava o fogão, onde ele estava envidrando os palmitos”.
Ao reparar na casa desolada, pois o meu primo só permanece no local enquanto trabalha durante o dia, notei alguma decoração que permanece por ali, como se o casal ainda pudesse voltar à vida. Em especial, uma fotografia com quase todos os filhos, parece nos dar as boas vindas. Ao vê-la pensei no nhonhôs Almiro e João Barreto. Fizeram parte da minha infância nas praias Brava e Fortaleza.
Nesta época do ano, quando as laranjas estão querendo amadurecer, passa pela memória os quintais desses nossos patriarcas, onde as gostosas mexericas pareciam se oferecer aos gulosos netos. A acolhedora casa da tia Maria, neta de escravos - dos Inocêncio, da Ilha do Mar Virado - e descendentes de árabes lusitanos por parte dos Mesquita, sabendo de nossa gulodice, tratava logo de oferecer um monte de coisas gostosas da sua aconchegante cozinha. Ao final, depois de brincar bastante com os primos e primas, vendo a mamãe se despedindo no fim daquelas distantes tardes, a gente perguntava sempre com muita ansiedade de uma próxima oportunidade. “Quando a gente vai voltar aqui de novo?”.
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