sábado, 15 de março de 2014

OUTRA YPEROIG



    De acordo com a definição predominante da palavra yperoig,  de origem tupinambá, ou seja, dos antigos moradores desta terra denominada de Ubatuba, o significado é água de cações (tubarões). Dá para imaginar, se tecendo por aquelas águas em tempos longínquos,  anequins, cambebas, caçoas, galha preta, treme-treme, caceteiro etc. Hoje, ao falar yperoig, lembramos da avenida entre o mar e a cidade. Avenida Yperoig. 

       O saudoso Maneco Hilário, ao se recordar de sua infância, dizia que a vó tinha, dependurada numa travessa de jacatirão, “um grosso couro de tintureira que servia para diminuir as rachaduras dos pés”. Imagine só! “A vovó era vaidosa. Aquela lixa de cação deixava os pés mais bonitos em ocasião de ir para a cidade. Ela também, por fim, passava banha de lagarto em volta do solado”. Mas voltando ao título - e no tempo ! -  por volta de 1975, a Avenida Yperoig superou a Praça da Exaltação da Santa Cruz na preferência dos jovens em busca de suas paqueras, diversões e outros encontros. 

     Muitos desse tempo, assim como os jovens de hoje, só ficavam “batendo perna”, “dando um rolezinho”. Outros sempre tinham um dinheirinho para curtir o Tom Bar, que era um restaurante dançante. Os restaurantes Princesa e Pata Praia também eram agradabilíssimos. Eu, por sorte de ser “filho do Carpinteiro”, até tinha o privilégio de curtir o Chez Vavá. Explico: o meu pai e eu trabalhamos na montagem deste ponto comercial. Era de um francês. Assim, ao cismar nas andanças, eu me adentrava naquele “ambiente chic”, onde prontamente admirava o remo especialmente feito pelo Ditão da Ditanha e entalhado por papai e a enorme garoupa empalhada no alto da parede. Era sempre atendido pelo amigo Guido. “A mesma de sempre: tônica com limão?”. Ah! Tempo bom!

       A avenida era limpa, silenciosa em comparação aos dias de hoje. As pessoas se conheciam de verdade. Toda a faixa de areia, com seus esparsos coqueiros e amendoeiras,  não impediam a visão maravilhosa da Baía dos Tubarões, da famosa Yperoig que se estendia da Ponta do Ocaraçu até a Ponta Grossa. Uns poucos mais afoitos até arriscavam uns beijos sentados nos bancos de granito que por ali se espalhavam. De vez em quando uma luzinha de baleeira rasgava o largo. Eram caiçaras que “pescavam quase no lagamar”. Tempo de fartura! E hoje, hein? Quem diria!!!

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