É noite, poucos carros rodam no espaço mais perto, mas estão aos milhares mundo afora. Acordo. Pelo barulho sei que um caminhão segue seu destino com pesada carga. Faz-me lembrar de uma recente visão numa subida de serra: numa dessas peculiares cargas, acondicionada num tanque especial sobre forte chassi, recorreu-se de uma obra de arte religiosa que servia para disfarçar a aparência da máquina e revelar a devoção do condutor (ou do dono da empresa de transportes). Eram duas imagens sobrepostas: a Virgem Maria e Jesus. Achei bonito o trabalho, tive tempo para admirar porque não era possível a ultrapassagem naquele trecho da estrada.
Tendo à minha frente aquela pintura, até me esqueci da feiúra da carga. Bem podia ser um produto químico perigoso, inflamável. Foi quando comecei esta reflexão acerca da existência de doze homens (Simão Pedro, Tiago, filho de Zebedeu, João, André, Filipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Judas Tadeu, Simão Cananeu e Judas Iscariotes) e do nascimento do cristianismo, do catolicismo. Imaginei a Igreja Católica começando a sua história e inspirando obras de artes como aquela retratada na traseira do caminhão.
Nessa igreja, derivação do judaísmo, surgiram as divisões e cismas, pequenas seitas se desprenderam de seu tronco, se constituíram em novas doutrinas, novas orientações religiosas. Igrejas aos milhares se formaram da Igreja Católica. Era inevitável. Afinal, entre os doze nomes, seguidores de Jesus, havia um discordante, que não foi santificado pela instituição.
Igrejas aos milhares...nomes diversos, estranhos. Penso na dificuldade de escolher um nome do agrado, encontrar uma denominação que ainda não exista. De uns tempos para cá tenho elencado nomes de igrejas: Portas Amarelas, Semeando Fogo Entre As Nações, INOVI (Igreja Nova Vida), Sarça Ardente, Bola de Neve, Betesdá, da Cidade, Leão de Judá etc. Uma última, de acordo com o “Tio Chico” da Pedreira Baixa, ostenta o expressivo nome: Sob Nova Direção. Interessante, né? Quer mais? Dá uma volta por aí, sobretudo nos bairros pobres, para ver outros nomes que nomeiam espaços de oração. E pensar que, na metade do século passado, eu apenas via em Ubatuba, além da tradicional católica, a Presbiteriana, a Assembleia de Deus e a Congregação Cristã do Brasil. Me parece que Jesus disse algo assim: “Nenhum reino dividido entre si mesmo subsistirá”. Os poderosos sabem que é preciso dividir para dominar!
Em tempos de novidades, de disputa por informações e clientes, eu proponho um nome para quem for criar novíssimo ramo desse tronco alimentado pelos apóstolos: Igreja da Publicidade.
Em tempo: "Tio Chico", deixou um comentário: "Pelo número de pastores candidatos para as eleições que se aproximam, acho que o faturamento tá minguando".