Painel dos Causos - Ceeja Massaguaçu (Arquivo Lu) |
Nipônicos coletando sapinhauás no lagamar do Acaraú - Arquivo Igawa
Ontem, no CEEJA da praia do Massaguaçu, aconteceu mais um momento literário. Pelos informes, os nossos causos caiçaras registrados aqui serviram mais uma vez para dar a conhecer a nossa gente e vivências. Agradeço ao pessoal que nos estima e prestigia em promoções semelhantes. Forte abraço.
No embalo dos causos, me recordei daquela vez que o Zé Vieira (eternizado em nossas memórias e na estátua do pescador na entrada da cidade de Ubatuba) foi pescar no cais do porto e lançou a linhada com tanta força que o anzol foi parar na praia do canto do Acaraú, onde passeavam patos e gansos do Velho Jaca. Era dia de muita cerração, não se via quase nada. Adivinha o que aconteceu? Pato e ganso são bichos gulosos. Um deles vendo aquilo cair na praia, logo engoliu. Aí começou a briga. Puxa que puxa, com o homem se esforçando até saltar as veias do pescoço. E aí a surpresa: o bicho bambeou na linhada, aboiou, bateu asas e voou. O que aconteceu? Isso ele percebeu: tinha ferrado o ganso do Jaca Vigneron. “Só podia estar mariscando na praia do Itaguá, indo na direção da barra do Acaraú. A linhada foi cair lá. Que força a minha!”. Ao ver aquele “peixe” nobre no anzol, ainda se debatendo, não pensou duas vezes. E deu no que deu. Naquele dia toda a família se deliciou com o ganso ensopado.
Alguns me disseram dos
comentários tardios do velho pescador. Contava que nunca tinha saboreado uma
carne de ganso com sabor de sapinhauá. Explico: naquele canto do Acaraú a
areia, na maré baixa, ficava coalhada de sapinhauás. Era demais mesmo! O senhor
Igawa até promovia a vinda de japoneses para coletas periódicas. Isto quem me
contou foi o seu filho Nelson.
Na mesma direção do
causo do Zé Vieira, ontem a Fernanda, gente daquele pedaço de chão entre Perequê-
açu e Barra Seca, nos contou o seguinte:
“Você sabe, né Zé, que na Barra Seca, no meio do mato, tem lagoas? Pois
é! E tem muitas traíras, acarás e outros bichos! Numa ocasião, eu e minha mãe
fomos pescar num lago daqueles. A isca era minhoca, tava fácil demais: era só
jogar, esperar um pouco e logo puxar os bitelos para o balaio. Foi quando o inesperado
aconteceu: um bem-te-vi desceu rapidinho na minhoca do anzol e saiu voando.
Coitado. Puxamos logo, mas não teve jeito. Ele morreu”. Coitadas. Já imaginou se fosse um pato, ganso ou ave semelhante? Mas, cá entre nós, conhecendo
os velhos hábitos caiçaras, você acha que o passarinho foi desperdiçado?
Enfim, considerando esses
momentos de ontem, podemos afirmar que nos dias atuais essas rodas de causos
agora acontecem de outros modos, em espaços que não são os jundus, ranchos de
canoas, terreiros etc., mas acontecem!
(Em tempo: eu e Carol rimos bastante do causo da nossa amiga que nestes
dias está se refestelando numa fartura de peixes-porco promovida pelos
pescadores da Barra Seca).
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