Arte em casa - Arquivo JRS |
No
tempo em que o fumo era um dos principais produtos para a negociação na
escravização de negros africanos, Ubatuba e outros locais foram cobrados pelas
autoridades designadas por Portugal para a produção desse produto. Em 1776,
consta na carta de Martim L.L. de Saldanha para os vereadores da Câmara de
Ubatuba:
“Visto que me participam de ter chegado a
essa Vila o Práctico, que o Snr. Marquez Vice rey mandou a ensinar a plantar, e
fabricar os fumos, devem Vmces executar as antecedentes Ordens...para aumento
desse Ramo de Comércio...cuidem, logo em que os Lavradores se sujeitem ao ensino
do dito Practico, e lhe dem a porção, e comodo, que lhe ordenei...que somente
os dessa Ubatuba o repugnão por seus gênios rebeldes, que saberei domar, e
castigar, ainda com concurso do Snr. Marquez Vice Rey, para verem, que nem de
cá, nem de lá teram couto...”.
Pelo teor, parece que os habitantes de
Ubatuba naquele tempo se recusavam a acatar determinadas ordens. Mas não era só
para o comércio na África que se destinava o tabaco. Também era um produto
muito valiosos na região mineradora. No século XVIII, “a vida útil de um escravo em Minas Gerais não ia além dos doze anos. A
alimentação era precária, em geral, composta por duas refeições por dia na
forma de um angu feito com feijão, farinha de mandioca, charque e sal. Fumo e
cachaça reforçavam a ração e eram servidos como recompensa para os trabalhadores
mais produtivos ou mais submissos”. Assim afirma o pesquisador Laurentino
Gomes se referindo ao período aurífero. Ou seja, desta cidade litorânea saía farinha de
mandioca, cachaça e fumo também em direção aos sertões mineiros.
Segundo a historiadora Maria Luiza
Marcilio, aquela pressão sobre os produtores de Ubatuba não obteve muito sucesso:
“Mas os roceiros que podiam ter alguns
poucos escravos, passaram a integrar o plantio dos fumos em suas roças,
especialmente no momento de crise da exportação do açúcar e primórdios da
introdução do café (últimos anos do século
XVIII e primeiros do XIX). Já a partir dos anos de 1805, não mais vimos a
declaração de colheita de fumo local. O café está em franca difusão”. Outro produto do qual hoje em dia nem se fala mais
é o anil, introduzido em nosso município na mesma época do fumo, de acordo com
a citada autora: “Em 1798 a produção
local atingia 75 arrobas, vendidas no mercado do Rio de Janeiro”. Portanto,
é dessa época os casarios que eu tive a chance de apreciar até meados do século
XX no centro de Ubatuba. Em Paraty, cidade vizinha, há uma preservação desses
edifícios que lhe dá o chame de estilo colonial e atrai muitos turistas.
Infelizmente tal preservação não foi preocupação das autoridades ubatubenses de
outros tempos. Hoje assistimos o mesmo se dando com o meio ambiente que nos
circunda. Lixo, esgoto e ocupação desordenada vão resultando em degradações por todo lado. Se continuar neste ritmo, brevemente haverá “choro e ranger de dentes” pela perda da nossa “galinha
de ovos de ouro”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário